A vida é bela!
Hoje eu acordei de bom humor! Nada poderia arruinar a alegria que tão vigorosamente emanava do meu ser. Meus olhos brilhavam como os olhos de criança em noite de Natal. Só um pequeno torcicolo no pescoço e nada mais. Tudo estava tão perfeito! O barulho da chuva e dos trovões soavam como música em meus ouvidos. Aliás, chovia e chovia bem! Daquelas chuvas que fazem São Paulo parar. Fazia frio também. Sempre gostei do frio, o inverno me lembra os chocolates quentes com marshmallows que tomava em Campos do Jordão quando criança.
Fui para o banheiro tomar uma ducha bem quente mas, não tinha água quente. Mas e daí, no exército os recrutas tomam banho frio às cinco da manhã - se é bom para os recrutas é bom para mim também. Marcha soldado cabeça de papel, quem não tomar banho frio vai preso pro quartel. Ontem (hoje) fui pegar no sono somente às três da manhã porque o vizinho agitou um padoge arretado. Esbanjavam tanta alegria! Dizem que banho frio faz bem para a circulação então espantaria o sono de vez.
Meu Deus, quase morri congelado! Mas fiquei bem acordado, alerta como um escoteiro. Pronto para mais um dia de trabalho. Avante! Peguei o carro e saí. A chuva ainda caia forte regando todas as árvores e plantinhas. Somos tão egoístas quando reclamamos das chuvas e enchentes, sempre nos esquecemos que chuva é água e, água é vida. Plantinha é vida. As duas horas e meia no trânsito para percorrer quinze quilômetros permitiram-me meditar de olhos abertos e ouvir música no som do carro. A Marginal Tietê estava completamente alagada, dava pra ver o lixo do rio transbordando e passando próximo aos carros.
Uma cena me comoveu. Debaixo do viaduto uma reunião de motoboys que se protegiam da chuva conversavam alegremente sobre futebol. Com o trânsito lento deu até para ouvir parte da conversa:
- O juíz fila da puta ainda anulou um gol! Se não fosse isso vocês tinham tomado uma sabugada de três a zero!
- Tomá no seu cú, timinho de corno o seu! Só sabe jogá na retranca!
Existe coisa mais bela do que a amizade? Cheguei ao trabalho e meu chefe me pediu de surpresa para que eu fosse a uma reunião lá no centro. Então, percorri mais trinta quilômetros de carro, meditação, música e chuva. Cheguei lá no horário do almoço. Encarei um prato feito delicioso em um restaurante boca de lixo mas a Coca-cola não me caiu bem. Bateu pesado no estômago me levando direto ao trono. Virei rei. Suei frio, me contorci tanto que o torcicolo evoluiu para o uma dor de cabeça daquelas.
Nessas horas temos que nos lembrar: o que não mata fortalece. Eu sabia que aquelas dores eram passageiras e minha alma permaneceu imperturbável. Bom, o resto do dia foi só emoção: reunião, café, papo-furado, café, e-mails e café.
Ao final do dia fui para a cama de alma lavada. Missão cumprida, mais um dia vivido, mais uma batalha vencida. Cada dia um leão para matar. Mas é assim mesmo, a vida é bela. A beleza da vida se esconde nos detalhes, se esconde tão bem que tem dias que fica difícil de enxergar. Muito difícil.
Julho de 2010