Eu acho é tome!

Quando desconfio que já disse tudo, me aparecem novidades muitas que me coçam a língua e a ponta dos dedos e lá vou eu de novo me expressar do jeito que me sai melhor: escrevendo.

O Brasil perdeu! Ora essa! Mas, que merda! Dunga burro...ouvi de todo mundo. Bombas estouraram mesmo assim, assustando meus pobres gatos, me incomodando (detesto bombas por que as acho inúteis, expressão pobre de quem não tem mais o que fazer, perigo que se compra - caro - em barracas e que podem fazer da melhor festa uma corrida desesperada para o pronto-socorro) e impossíveis de deter a menos que chamasse a polícia, mas são meus vizinhos se expressando. Deixa pra lá.

A cara do meu marido e do meu genro, cheias de perplexidade em frente a TV, eram a cara dos brasileiros. O Brasil está fora da Copa! E lá se foi a pipoca pro lixo.

Bem, agora me explique em que isso muda o quadro geral do país em que vivemos! E se o Brasil ganhasse a Copa? Ele já ganhou cinco vezes e que eu saiba - fora os comerciantes que aproveitam qualquer enxame para fazer comércio - nenhum de nós ganhou com isso - exeto os jogadores, técnicos, cartolas e tal.

Meu marido - sem paciência alguma - tenta me explicar:

- É a alegria do povo! A pessoa fica mais alegre! É a dignidade do país do futebol!

E eu parodiando o Bola, do Pânico na TV:

- Ah, vá! É mesmo?

Acho linda a iniciativa do esporte, do quanto ele é libertador, do quanto as crianças precisam do treinamento, da disciplina, etc. Mas, me parece que os meninos pobres querem ser jogadores por que num país onde educação é coisa pra rico - igualzinho à Colônia Portuguesa de 400 anos atrás - o destino dos pobres aponta para o que é possível: jogador, pastor de igrejas chinfrins, político e traficante. As quatro coisas juntas, se possível. E não necessariamente nessa ordem.

O que se vê é um bocado de gente sem instrução, correndo atrás da bola, fazendo o que qualquer moleque faz na praia ou na várzea, de graça, para sair ganhando rios de dinheiro, enquanto um professor corre atrás da vida, com um salário humilhante, com condições desumanas de trabalho e um alunato que não imagina para que serve uma equação de segundo grau, já que isso não ajuda a jogar futebol, falar de Jesus, ganhar voto ou vender drogas.

alguns jogadores de futebol figuram em páginas policiais...eles sabem correr atrás da bola e marcar gols, tem dinheiro para pagar advogados caros...por que os "amigos e vizinhos deles" são perigosos. Mas, é claro! Eles cresceram na mesma pobreza, brincaram juntos na rua com aquelas pessoas, jogavam pelada no campinho juntos. O fato de um jogador enriquecer por que joga melhor que os outros não apaga o seu passado nem quem ele foi na infância.

E agora o Brasil perdeu! Paciência!

Nem se ele ganhasse meu salário de aposentada aumentaria, nem - sonho dos sonhos - o valor dos gêneros alimentícios baixariam, nem a escola seria "para todos" (eu odeio essa expressão: "para todos", pois podia ser completada com "para todos os meus amigos, "peixes" vizinhos, compadres, familiares e correligionários").

O Brasil perdeu e meu marido, meu genro e meus vizinhos que me perdoem, mas eu acho é tome!