Divagações sobre o amor

“Para falar de amor verdadeiro e logicamente correspondido fala-se de família, fala-se de união, fala-se de ilusões, fala-se de tempo, fala-se de doação, fale-se enfim de vida”

O amor, por mais fácil escrever ou falar sobre este sentimento, mais difícil é nossa capacidade de lidar com ele, explico: qualquer um pode escrever um simples eu te amo, simples mais profundamente significativo, sim concordo são três palavras monossílabas, mas para quem pronuncia ou a escreve tem inúmeras aplicações ou melhor inúmeras intenções que vão de um simples agrado a conquista de um amor ofertado. Amor, lindíssima palavra universal representada por um símbolo em forma de coração vermelho vivo, forte vivo, cor viva, fogo vivo, intensificado com o olhar, isto é,  uma carta “escrita” onde a única palavra é um desenho de um coração rubro vivo, que diz, que fala, que tem “voz” própria, onde o sorriso de canto de boca vai para o leitor de tão singelo gesto. Um dia uma evento, um dia um relance, um dia uma palavra, um dia uma pergunta, um dia um diálogo, um dia um esbarrão, um dia uma situação que transforma-se em atração, interesse ou encontro transforma-se talvez uma história com final melancólico, onde se guarda agora uma amizade ao longe, ou uma decepção marcante ou quiçá transmuta num grande conto de amor interminável. A fórmula do amor não existe, já que não é mistério, nem segredo, na verdade para criar o amor entre dois seres, é tão sublime o ato, como a própria palavra amor, ato de, e somente de - doar- esta ação quem esquece ou não sente, ou não enxerga, ou não percebe, porque não? doa-se um carinho, doa-se uma amor, doa-se uma atenção, doa-se o bem querer, e como retribuição, que esperamos, o que de mais importante se a retribuição de tão nobre sentimento? de igual forma, de igual intensidade, esperamos, ou de menor, ou de mínimo, esperamos, então que se torne grande o retorno, da mesma forma que projetamos. Impor amor, impor respeito, impor atenção, se torna tão vago, e tão ridículo quanto a própria palavra, -imposição- ninguém pode ser obrigado a fazer algo que não seja de acordo com seu bem querer, vale-se da máxima “ amo a mim mesmo, assim tomarei atitudes que me façam bem”. Às vezes fico, ou quase sempre fico, triste, com a vulgarização da palavra amor, atração é um sentimento perigosíssimo, na verdade é uma metade, ou melhor é o caminho, o cálice do veneno chamado ilusão, quem toma e o leva à boca, esse maldito gestor de corações partidos, de esperanças perdidas, mas pergunta-se “ Como posso gostar de alguém se não existir a atração” ? tão fácil, tão difícil ou complicado mas não irrealizável, pois bem usar – a razão - por mais impraticável que seja, inserir essa palavra no meio de tantos sentimentos, deve-se fazer sim este esforço extra e questionar: o que está por trás daquele peito musculoso, do sorriso, da simpatia, daquela mulher com corpo de miss, daquele apartamento maravilhoso, ou melhor perguntar a si mesmo: “ a que patamar quero levar esse relacionamento” ? - Levarei até uma cama macia recheada de prazeres e gemidos, ou levarei até um altar duro e frio protagonista dos meus sonhos de felicidade, onde ouvirei as minhas eternas juras de amor? Decisões são tão necessárias, quanto a valorização da própria vida, se pararmos todos os dias para refletimos cada atitude que praticamos dia após dia, com certeza, todos teríamos dias melhores, mesmo que para isso depreciamos os psicólogos de plantão, que percebendo o esvaziamento dos seus consultórios com pessoas resolvidas na vida ou melhor auto-resolvidas, procurariam outros meios de atuação mais lucrativa  que ouvir lamentos sentimentais de amores abandonados. Mesmo achando raro os casos de amores sinceros, pessoas que se somam mutuamente todos os dias para manter forte a argamassa que uniu o casal, e conseqüentemente formou-se um lar harmonioso, não deixarei de acreditar neste sentimento milagroso do amor e suas inúmeras benções bem exemplificadas como: tabus quebrados, preconceitos derrubados, vidas transformadas, temperamentos mudados. Preste atenção nesta frase “ o amor verdadeiro cura tudo, inclusive as feridas da alma”. O tempo é um dos elementos mais conclusivos quando se fala em remediar situações que de alguma forma nos marca, e nos faz sofrer e faz pessoas próximas sofrerem, e mais, é recorrente recebermos sempre a mesma afirmação, “deixa o tempo passar, um dia você esquece”, concordo em parte, pois até uma perna perdida, um dia de tanto se virar com a única que resta, acaba-se esquecendo da que lhe foi arrancada por alguma desventura do destino. Mas a ferida da alma, por vezes nunca se fecha, e basta um rabisco num caderno há muito esquecido, ou um roupa velha, jogada ás traças ou mesmo uma palavra familiar jogada ao vento para reabrir a ferida esquecida, ou fingida ser esquecida. A cura da ferida da alma é a valorização de si mesmo, lute ferozmente, entregue-se dia após dia, a recompensa será a paz eterna que quando crianças achamos nas cantigas de roda, nas travessuras, nos esconde-esconde. A paz que procuramos quando estamos num multidão de rostos desconhecidos é a face do nosso amor correspondido em sua total plenitude, é chegar ao lar que transfigurou-se em santuário, é olhar/sentir o seu sorriso ser correspondido através de um beijo do seu amor, ou a melodia na voz dos filhos. O reflexo disto, revela-se no encantamento de ser criança outra vez, nos sorrisos espontâneos, nas alegrias inocentes na forma de adulto, reflete na lembrança do sonho de uma boneca ou boneco que ande, fale, faça pipi, cante e dance. Reflete na figura de uma criança que não será jogada num canto quando “enjoar” de brincar, reflete numa denominação que acompanhara por toda uma vida, reflete num pronome possessivo dito com todo esmero e orgulho: meu ou meus filhos.
A natureza mesmo zelando pela continuidade da vida, fornecendo a capacidade de gerar filhos - infelizmente não são todos que nasceram para serem pais - gerar filhos? Ora todos ou quase todos podem, mas criá-los? Não são todos que tem este dom, sim digo dom, ser pai ou mãe é um dom, criar um filho é muito mais que dá o que comer, vestir ou por numa escola. Filho é o nosso tesouro, é o presente que Deus nos deu para reparamos nossos erros, é o recomeço de uma vida onde por inexperiência ou por falta de orientação nos privamos de sermos algo melhores, de quem sabe nos completar como seres humanos compreendendo a vida que nos foi imposta e que resignamos a aceitar. Como por exemplo um casal sem cultura, sem perspectivas de melhora de vida, privando-se do que comer para tornar o filho querido um doutor. Este ato pode ou não ser visto como uma reparação de uma vida que desejaram para eles e nunca conseguimos concluir? Pois é, nossos filhos que usufruirão, talvez, já que o que é bom para nós ou melhor, o que achamos bom para eles não é o que desejam para si.
Um filho bem criado, visando em conta os direitos dele: alimentação, moradia, vestuário, educação, leva-se em consideração a formação do seu caráter, que nos trás uma recompensa inestimável que é o carinho e a gratidão por não ser mais um, simplesmente ser que foi gerado, vestido e alimentado. “Filho não se deixa criar, bicho se cria, filho é criado com muito amor”. O círculo da relação a dois se inicia e cresce com o amor, com a dedicação, com a união e fecha com a família. Viver por viver ou viver só, isoladamente só, mesmo agregando multidões de amigos, ou por suprimir a falta de um companheiro ou companheira com a desculpa da independência financeira, ou por estar marcado com as desilusões de um amor não retribuído, não justifica a solidão - ninguém nasceu para viver só - Na verdade agora, neste momento, alguém partilha desta mesma opinião, preste mais uma vez atenção , não desta opinião: “ não serei feliz com ninguém eu nasci para ser sozinho ou sozinha”, mas sim desta aqui: - Eu tenho ( o direito) e posso ( mereço) ser feliz amando e sendo correspondido.

DSilva
Enviado por DSilva em 02/07/2010
Reeditado em 15/07/2010
Código do texto: T2354626
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