Caro Hubbley

Entre o arroubo e a modéstia, prefiro a segunda. Criei cedo, hábitos que me acompanharão sempre, afora reveses que não foram capazes de os esgarçar. A leitura foi um deles. Daí minha convivência sistêmica com grandes e pequenos expoentes da literatura mundial. Não tenho biblioteca; tenho prateleira onde guardo livros. Alguns poucos me sobraram de um tanto que adquiri desde Meu Pé de Laranja Lima, o primeiro. Emprestei-os ou “doei” a alguém mais abusado que eu, ou mais pobre, e que não tinha como adquiri-los pelos meios “legais”, daí a razão do surrupio. Não me importo, pois em contrapartida tenho alguns surrupiados também.

O hábito de ler é muito mais que um hábito; é uma mistura de prazer e deleite, é um estado de transcendência. Quando me refiro a grandes e pequenos, refiro-me aos vários estilos de escrever, uns mais ricos, engalanados, outros simples; pobres. Não tenho qualquer pretensão quanto a isso, mas o que é ser rico e o que é ser pobre em matéria de literatura!?. Rendo-me. Não fossem os chamados pobres e em muitas das vezes considerados pernósticos GiBis, muitos escritores não o seriam. Não sou, não tenho a coragem de me entender assim, mas arrisco-me vez em quando a rabiscar certas garatujas. Ler, é bem mais fácil, confesso.

Hubbley F. Alves Affonso(jcomunidade@hotmail.com) (com bb, y e ff), com poucos meses de residencia nos EUA(argh!), como afirmado em carta divulgada em jornal de circulação nacional, sente-se no direito de considerar “idiotas” a nós outros, que moramos e trabalhamos abaixo da linha do Equador, leia-se no Brasil. Li, pois até necrológio leio, mas isso não é coisa de se ler sem que se dê uma resposta. Enviei ao “brasilunidense”, via correio eletrônico e à coluna do jornal (que a publicou) a seguinte missiva:

Caro Hubbley.

Espero que minha indignação e a de milhares de brasileiros, não venha a ser censurada pelo Magno e Soberano Senhor George “War” Bush. Que ela lhe chegue ao conhecimento e lhe faça refletir.

Pelo seu deslumbre tudo leva a crer ser necessário também, a partir de agora, dedicar-lhe tratamento diferenciado daquele dispensado a nós, pobres mortais que vivemos neste Brasil pobre. Então lho darei, respeitosamente, chamando-lhe “excelência”.

Aqui, excelência, graças a FMIs, G7s, BIRDs, BIDs, McDonald´s, Coca-Colas e quejandos, pode não ser a melhor opção de país para se viver, mas o nosso evangelho é o evangelho da PAZ; brancos e negros se cumprimentam com aperto de mãos, andam juntos no mesmo ônibus, estudam na mesma escola e até se casam entre si. Nossos governantes são eleitos em eleições limpas e democráticas, só alcançam o poder os que conseguem maioria de votos, não são hipócritas (algumas exceções) e não provocam a matança de inocentes mundo afora, em nome de Deus; não construímos bombas de destruição e nossa guerra é contra a fome. Ganhamos salário mensal de um dia de faxina de V. Exa., mas não somos obrigados a ser faxineiros. Os faxineiros daqui têm autoestima, não usam documentos falsificados, não precisam viver escondidos e se orgulham do que fazem, a exemplo dos catadores de papel de Belo Horizonte. Os estrangeiros que aqui vivem, não foram trazidos por “coyotes”; entraram sempre pela porta da frente e foram recebidos com dignidade. Temos violência sim, mas não a utilizamos como instrumento de opressão e dominação dos povos. O medo maior que temos agora excelência, não é da violência interna; temos muito medo é de que nossa Amazônia seja o próximo refém das armas inteligentes que matam crianças, velhos, jornalistas e transformam cidades inteiras em crateras - se é que nestes poucos dias ainda te lembres da Amazônia; temos medo de que nossos rios sejam expropriados a poder do fogo de soldados recrutados entre negros, hispânicos, quem sabe iraquianos, ou quem sabe até, nesta população dos mais de 400 mil brasileiros de “sua” grande Boston, para lançar bombas fragmentadoras sobre alvos de nós conhecidos como a Avenida Paulista, o Corcovado, o Eixo Monumental de Brasília, a Igrejinha da Pampulha ou sobre o Mineirão, de preferência num domingo de Cruzeiro e Atlético, quando se atingiria número maior de assalariados da vergonha. Por fim Mister Hubbley, deixo-lhe para meditação estes ensinamentos do Padre Antonio Vieira, se é que V. Exa. tenha um dia ouvida falar de Vieira: “No Mundo são ingratos, na vossa imaginação são agradecidos; no Mundo são traidores, na vossa imaginação são leais; no Mundo são inimigos, na vossa imaginação são amigos. E amar ao inimigo, cuidando que é amigo; e ao traidor, cuidando que é leal e ao ingrato, cuidando que é agradecido, não é fineza, é ignorância”. Que o digam vietnamitas, nicaragüenses, afegãos, iraquianos, etc.

Que tenhas uma boa e tranqüila convivência por ai e sinceramente, esperamos que não tenhas a necessidade de retornar um dia para este país violento e famélico, como muitos brasileiros o fizeram depois de 11 de setembro de 2001.

Atenciosamente.

W.M.M.