Tudo para lembrar
Francisco você está andando pela rua como um homem casado. Um homem casado jamais espreita com olhar o que quer que seja. Um homem casado segue reto. Nenhuma curva desvia o seu olhar atento. Todas as linhas levam para o endereço de casa. Casa presidida pelo amor. Onde o sol nasce belo, existe jardim, e também um bosque, de onde cai a afetuosa aurora. O casamento enobrece quando o amor não se desvia.
Guarda teu modo secreto de Francisco, modo de averiguar em torno todos os delineamentos encantados, todos os sorrisos esplendidos, todas as meiguices sapeadas, todos os relances. Tua alma no fundo geme: Ai do amor que tudo deseja! Amor que só para desejar se exerce. Das artes de sentir ternura em vida.
Francisco quis esquecer, pular do amor o terrificante ciúme. Recusar acessório de cama, mesa e banho. Amor objeto. Isso não. Amar é para amar pleno. Amava inteiro como soldado a vitória. Amava o diário com seus perfumes. Amava suas denguices. Suas morenices de corpo aceso e a pimenta sobre a rede a desatar ternuras.
Já é o mundo sempre a mesma bola indecisa, frágil e girante. Uma carroça, um carro. Alguém sobe no coqueiro e de lá deixa cair o facão. Depois todos escutam dele um grito, longo, forte: olha o coco! Água de coco. A rua inteira acorda como Francisco em si de tanto secar algo a dizer. Francisco vai até o espelho, examina o rosto, está velho. Lamenta. Queria ter casado, ter vivido a escravidão do amor com outra. Após tantos anos... Ouvir as palavras que nunca quis ouvir. Foi o costume de aceitar o amor... quando surgiu o amor... Tinha um filho que não sabia,antes não reconhecesse, de vadia, que partiu grávida em silêncio, rumo estrada afora.
Estava certo; um pouco e tudo seria um segredo.
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Ficção