Falar errado?

A linguagem como ela é: complexa e diversa.

Não podemos simplesmente sair por aí, a torto e a direita, muitas vezes de forma etnocêntrica considerando o falar das pessoas errado e exigindo que todos falem como se fossem gramáticas ambulantes. A língua é também o reflexo da conduta social humana. E é aí que reside a celeuma: a maioria dos linguistas afirma não existir falar errado. Vou com eles. Posso não falar corretamente. Mas também não falo errado. Para falar a verdade, ninguém se comunica da maneira como as gramáticas orientam, apesar de sermos reféns da comunicação oficial e da norma culta. Assim, também não existe o falar certo (mesmo existindo o vernáculo). Afinal, a afirmação de um confirma automaticamente o outro e a recíproca é verdadeira.

O caso é que podemos distinguir na língua duas formas de se expressar. Primeiro a fala. Depois a escrita. A escrita nada mais é do que a representação expressa da fala. Nessa vertente, conforme explica Lya Luft, “a escrita é que deve reproduzir a fala, e não vice-versa”. Deveríamos, sim, escrever como falamos. Talvez desse certo, não fosse a linguagem escrita “um código determinado por decretos oficiais” (Luft), além de outros entraves. Devemos, mesmo, é melhorar e aprimorar nosso vocabulário e falar. Aí podemos nos expressar melhor, tanto na fala quanto na escrita.

Todavia, o ponto onde quero chegar é que seria muito bom se todos se conscientizassem de que a língua é objeto de teorias científicas que avançam em suas pesquisas e explicações sobre os usos que dela fazemos. É um processo em contínua evolução e adequação. Então, antes de agirmos com preconceito em relação a determinado emprego linguístico, é salutar – e inteligente! – que olhemos para o passado e consultemos nossos gurus da linguagem. Só assim entenderemos quão complexo e belo é esse instrumento por meio do qual interagimos nas mais variadas situações cotidianas. Afinal, o que muitos consideram como erro é, na verdade, uma variação dialetal surgida há muitos anos atrás, a partir das dificuldades de assimilação da língua falada e escrita. A língua que falamos está interligada com a história de vida e com a cultura que vivemos. Deve ser respeitada por todos.

Concordemos: não há falar certo ou errado. Apenas diferente.