Roselina
‘Quem disse que uma rosa já nasce predestinada para não ser colhida?’ Essa pergunta era a forma que Roselina encontrava para se opor àquilo que não aceitava. Dizia com muita segurança que ‘ pra cada rosa há um cravo. Era preciso ter paciência e não se avexar. ’
Era linda, inteligente, generosa, porém os poucos cravos que se encorajavam e tentavam uma aproximação, eram logo enxotados, saindo de coração partido.Os anos foram passando. Quando a conheci, era apenas um vislumbre de um botão. Achava que aquela rosa era a mais bela do jardim. Havia outras rosas, de diversas cores, formas e beleza... Uma a uma foi sendo escolhidas; quem era botão começou a desabrochar... E Roselina sempre esperando. Virou motivo de chacota. Trinta, quarenta,... sessenta... Roselina sonhando com o momento que um Cravo chegaria e a levaria para bem longe. Passou a ocultar a idade. Murchou, desconjuntou, secou, perdeu pouco a pouco o brilho...
Um dia um cravo conquistou meu coração. Fui compartilhar minha alegria, e ao encontrá-la, sozinha... Sentadinha, encolhidinha, olhos fundos, fininha... Meu coração chorou. Curvada pelo peso dos anos. Qualquer vento parecia levá-la. Abraçou-me, recebeu meu cravo com carinho, mas disse com voz lenta e cansada: ‘ Não vou poder participar do seu Grande Dia, mas desejo toda felicidade pros dois. ’
Poucos meses após já estar plantada no jardim do meu cravo, recebi uma notícia que me deixou emocionada. Roselina foi encontrada ‘dormindo’ sentada, enquanto levava um solzinho manhoso. O Jardineiro que compreende toda obra de Sua mão, nesse dia decidiu colher àquela rosa para embelezar em outro Jardim.
30/06/10