A menina dos olhos de jade. (Viagem a Terra do Nunca)

Viagem a terra do Nunca

Pasado pouco mais de um ano de trabalho na Tintas Uniao, em Cotia, finalmente vieram as as minhas primeiras férias. Assim que recebi a notificação, dei só o tempo de encontrar passagem, peguei um ônibus e viajei para Gongogi, já saudoso das águas do rio que considerava parte de mim mesmo. Grassava, fortemente, em mim uma saudade imensa, irresistível, de andar livre pelas ruas, sem horário para acordar e nem aquele monstruoso relógio de ponto prá bater, coisa que eu odiava ter que fazer.

Corria já pelas alturas do mês de Abril o ano de 1971, quando eu desembarquei em Gongogi depois de ter passado por Itabuna, visto que não havia ônibus que fizesse a ligação direta, desde a cidade de São Paulo até Gongogi.

Foi uma emoção diferente, daquelas que enchem a alma da gente de uma espécie de entusiasmo sobressaltado, poder visualizar de novo as matas de cacau, as folhas passando raspando nas janelas do ônibus que corria célere, a driblar os inúmeros buracos e curvas vertiginosas, pelas lamacentas estradas de terra.

Eu viajava prestando atenção em todos os detalhes da estrada, a respirar outra vez o cheiro que tão bem conhecia. Parecia que eu ia desenhando cada curva, ajudando o ônibus a chegar mais rápido em sua tarefa de atingir o destino que se propunha.

Eis que, finalmente, depois de uma espera que me pareceu não acabar nunca, veio a última curva antes de embocarmos na ponte que atravessa o rio Gongogi.

Que coisa mais gostosa era contar todos os pilares que compunham o parapeito dela, de Sua Majestade (A Ponte) até que finalmente o ônibus parou.

Peguei a minha sacola com os meus pertences e desci. Fiquei um tempo parado, perto do ônibus, girando o olhar em todas as direções, como se meus olhos estivessem conferindo a realidade daquelas imagens que tanto sonhei rever.

(...)

Aos vinte anos parece que eu não percebia direito a passagem do Tempo: era como se todos os acontecimentos ocorressem por dentro de uma espessa neblina, dos quais eu recebia apenas uma sensação bem apagada, difusa, como se viessem de sombras; o que me dava a impressão de ser pouco real o que ocorria em volta de mim. Havia um vácuo de quase dois anos desde a minha partida de Gongogi, sendo que deste vácuo, dessa espécie de hiato, eu tinha só uma tênue noção, como se eu tivesse partido há uma semana ou algo assim...

Peguei a minha pouca bagagem, acondicionada numa bolsa tamanho médio, e fui caminhando para a casa da minha avó, já aspirando o cheiro das bolachas de coco sendo assadas no forno da padaria que ficava no caminho, do mesmo lado da rua. Subi os degraus da calçada e adentrei a porta da casa dela, parando na sala para sentir quem estava em casa...

Não demorou muito para que ela, a minha avó, viesse me fazer as festas de praxe, logo sendo seguida de minhas duas irmãs, Cida e Cili. Fiquei por longos instantes a contemplar a minha avó, uma mulher de porte miúdo, com pouco mais de cinquenta anos, mas já prematuramente envelhecida. Grandes vincos cortavam a sua testa, emoldurada por cabelos grisalhos mantidos cortados numa altura média, quase a tocar os seus ombros magros.

Fui ocupar uma cama no meu antigo quarto enquanto a minha avó contava para o restante da cidade que o neto predileto dela, seu antigo escriba, carregador de malas e companheiro de viagens, havia chegado a sua casa.

Depois de descansar da longa jornada que eu acabara de fazer, fui dar uma volta pela cidade, apenas sentindo as pedrinhas (as mesmas pedrinhas que emprestaram o seu nome para o lugar) do chão fazendo barulho sob os meus passos.

Por isso, não é à toa que o antigo nome de Gongogi é Pedrinhas: é tal a quantidade de seixos espalhados pela cidade que foi o primeiro nome que veio a cabeça de seus fundadores ao batizarem a povoação que construíram.

Depois de bater pernas por toda a localidade, (o que não levou tanto tempo assim) visitar alguns amigos e sentir de novo a grama do campo de futebol, voltei para casa.

(...)

Junto de nós morava uma garota que eu sempre tive interesse em me aproximar, mas que nunca tive muita chance de tê-la ao alcance de minhas sequiosas mãos.

Essa garota, muito bonita, destoava tanto da maioria das meninas da região quanto uma flor de mandacaru se destacando na caatinga. Elá era uma loirinha de mais ou menos um metro e sessenta de altura, com lindos olhos esverdeados, de porte bem leve, dona de uma daquelas cinturas incríveis, enquanto se via por todos os lados uma multidão de meninas morenas e atarracadas, o padrão típico das moçoilas do Sul da Bahia.

Como eu estava chegando de São Paulo, evidentemente a curiosidade dela em saber as novidades através de mim aumentou muito, o que fez com que nos aproximássemos naturalmente.

Quando meus olhos deram com os dela, encontram-na postada no parapeito da janela de sua casa enquanto eu estava me aproximando da minha, como se ela já estivesse, tocaiada, a minha espera.

Ela me presenteou com um lindo sorriso, e eu, aproveitando a oportunidade, parei para cumprimentá-la efusivamente.

Conversamos algumas banalidades, coisas de moços mesmo, e perguntei se ela me acompanharia, logo mais à noite, ao jardim, local aonde se juntava toda a rapaziada da cidade.

A menina não se fez de rogada, e dentro de uma hora estávamos nós dois sentados no jardim da igreja a conversar. Eu contando para ela as novidades da minha estadia em São Paulo, e ela toda atenta, a beber cada palavra que eu ia desfiando, não desgrudava aqueles lindos olhos cor de jade de mim.

Que surpresa boa foi para mim, testar a suavidade da pele daquela menina. Tinha a tepidez e o sabor de um gomo de jaca dura, o mesmo sabor que provei de seu beijo, os primeiros trocados com nós dois ainda sentados no banco daquele jardim em que nos encontrávamos...

(...)

A garota era linda demais! Os cabelos loiros e curtos davam-lhe um ar ainda mais jovem do que realmente ela era; andava, nessa época, pela casa dos vinte e dois anos, quase a mesma idade que eu.

A minha experiência com mulheres não era tão grande assim, mas eu sabia, intuitivamente, que tinha em mão uma jóia rara, e que devia cuidar dela com o maior cuidado de que fosse capaz. Ficamos a namorar até que terminaram as minhas férias e eu voltei para São Paulo e para o trabalho que me esperava.

Ficamos a trocar algumas cartas até que eu voltei de novo a Gongogi, agora já trabalhando em outra empresa.

Era já o ano de 1974, e eu andava bem estressado com o ritmo de vida que vinha levando, o que fez com que os meus patrões me dessem férias, após dois anos de trabalho, para que eu pensasse melhor no pedido de demissão que havia feito.

Rever a minha menina dos olhos de jade foi muito bom para mim...

Ela estava ainda mais linda do que antes, quando retornei a Gongogi no mês de Maio de 1974. O nosso namoro continuou como se não houvesse tido um hiato de mais de dois anos desde a última vez que nos víramos. Nesse intervalo o meu conhecimento em relação ao trato com as meninas aumentou muito, tornando-me menos tímido do que habitualmente sou.

O fator complicador no meu namoro com a garota veio, inesperadamente, de seu cunhado, marido da irmã dela, na casa de quem ela morava: o camarada não via com bons olhos aquele rapaz chegado de São Paulo namorar a cunhada dele.

Dei pouca importância a este fato e ela menos ainda. Parece até que a objeção do cunhado ao nosso namoro trouxe ainda mais tempero para a nossa relação que já era bem apimentada...

(...)

Nos dias em que fiquei em Gongogi, durante aquele meu período de férias, saí com a menina todas as noites. Ora íamos ao jardim, ora a casa de minha tia Senhora, local em que ficávamos bem mais a vontade.

Numa dessas noites em que estávamos na sala da casa de tia Senhora, lá pelas vinte e três horas, já perto de meu retorno para São Paulo, nosso desejo atingiu índices insuportáveis. Estávamos os dois de pé, num daqueles beijos sem fim, coisa que nós dois fazíamos muito bem. A minha perna direita enfiada entre as pernas dela fazia-me sentir a pulsação de sua vulva sob a calcinha, sensação percebida e acrescida pelo alterar de sua respiração.

Testei a rigidez dos seus seios: eram pequenos e consistentes. Toquei suavemente, com toda reverencia, aqueles mamilos com a minha boca, enquanto a minha mão se introduzia entre suas coxas, encontrando a entradinha mágica completamente úmida...

Fiquei ali, a brincar com aquela coisa muito quente entre meus dedos, e ao introduzir um pouco mais o dedo médio percebi, surpreso, a resistência inesperada de um hímen, o que, absolutamente eu não esperava. O meu membro, inquieto, pulsava dentro de minhas calças, enquanto a menina gozava a não poder mais com a ação de meus dedos.

Prudentemente, eu não quis avançar ainda mais o sinal, e me arriscar a uma penetração completa, o coito propriamente dito, pois naqueles tempos o casamento seria a consequência mais certeira para tal ato; contive a duras penas o meu desejo, e contentei-me apenas e tão somente por introduzir parte do membro entre suas coxas macias, (que queimavam, de tão quentes que estavam!) deixando que ela sentisse, pele tocando pele, toda a ansiedade que tomava conta de mim.

(...)

Aquela foi a nossa noite de despedida.

No dia seguinte tomei o ônibus de volta para São Paulo, retornando ao meu trabalho, do qual logo reforcei o meu pedido de demissão, insatisfeito com uma promoção que não me fora dada e que eu achava que deveria ter vindo.

Com o passar do tempo notei que as cartas que a menina me mandava haviam mudado de caligrafia. Não vinham mais aquelas cartas bem elaboradas, com letra bonita, com as quais eu estava tão acostumado.

Ela me explicou, numa cartinha cheia de rabiscos desajeitados, que tinha vergonha de sua letra, então pedia para que uma amiga dela, (E também minha) escrevesse as cartas por ela...

Não recebi a informação com bons olhos; a decepção, por comprovar que fora enganado, tanto tempo acreditando nas lindas cartas que recebia dela, somada a distância que nos separava, ajudou a enterrar definitivamente aquele nosso namoro que, a essa altura, já havia virado noivado.

Deixei de responder as suas cartas, e, quando voltei anos mais tarde a Gongogi, soube que ela havia se mudado da cidade, voltando para a casa de sua mãe.

(Nunca mais tive notícias da linda menina de olhos de jade.)

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 30/06/2010
Reeditado em 08/11/2019
Código do texto: T2349354
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