Eu queria escrever uma história assim.

Faz tempo quer não escrevo, confesso: tem – me sobrado inspiração, mas...

Falta-me talento.

É que eu queria escrever uma história linda, uma história que ninguém leu em lugar algum, uma história que nem mesmo Monteiro Lobato, Jorge Amado, Fernando Sabino e tantos outros sequer sonharam em escrever.

Queria que minha história fosse polêmica, revolucionária.

Queria que aquele corpo abandonado, deitado em uma calçada, com olhos tristes, vítima de uma existência inerme ao ouvi-la , se levantasse,enchesse os pulmões de ar, depois soltasse o ar calmamente, esticasse os braços num espreguiçar relaxante, saísse correndo e fosse á luta por uma existência mais digna.

Queria que a minha história entrasse em todos os lares, que as mulheres deixassem a novela de lado, desligassem o televisor só para lê-la queria que essas mulheres ao lessem minha história , gargalhassem, gargalhassem muito, que os homens deixassem de ir ao jogo de futebol, dispensassem aquela cervejinha nos bares ficassem em casa com suas esposas só para lê-la.

Queria que o marido machão, intransigente, agressivo, ao acabar de lê-la arrependido pedisse perdão á sua esposa. E que a esposa triste, frustrada, insatisfeita ao ler minha história se despertasse, passasse a se valorizar mais, a se respeitar mais, a se amar mais.

Queria que todos os jovens rebeldes, revoltados, inexperientes ao lê-la adquirissem experiência, humildade, sabedoria, sem precisar envelhecer. queria tanto que eles achassem minha história uma boa droga, a melhor droga, a única droga capaz de proporcionar-lhes uma viagem maravilhosa, supimpa, que minha história fosse a única droga que eles se viciassem.

Queria que aquele garoto expulso de casa, abandonado á própria sorte, ao frio das calçadas, ao ler minha história sorrisse feliz, cheio de esperança, e que seus pais ao lê-la fossem correndo ao encontro do filho e o levassem de volta para casa

Que a minha história fosse até o palácio do planalto e caísse nas mãos dos políticos – de todos- e que ao lê-la eles chorassem, chorassem muito e que arrependidos, deixassem o poder para os que não tem poder de fazer a história e que minha história fosse parar na mão do povo que depois de lê-la marchassem todos, organizados, sem líderes maquiados, sem ditadores, sem manipuladores, e que esse povo organizado salvasse a nação.

Queria que todos os partidos e partidários a lessem e se unissem numa só voz, num só objetivo.

Queria que minha história entrasse em todos os templos, todas as igrejas, todas as seitas e que todos, padres, pastores, espíritas etc.. tivessem uma só interpretação, e que todos ao lê-la cantassem de mãos dadas num só coro.

Queria que minha história fosse lida em todos os idiomas, por todas as raças, em todas as classes, queria que os analfabetos curiosos por conhecer minha história fossem todos para as escolas e se alfabetizassem.

Que minha história pudesse parar as guerras, e que todos os amigos e inimigos abraçados ditassem a paz como lei incontestável.

Queria que minha história extinguisse papai Noel, e que ao chegar o natal todas as crianças não precisassem pedir nada que todos os sonhos de natal fossem realizados todos os dias

Queria que minha história fosse a mais lida a mais emocionante, a mais apreciada, a mais inteligente, a mais humana etc.etc.

Que quando todos os escritores famosos ao lê-la dissessem:

-Puxa é fantástica, como é bela!Outro dissesse:- queria ter escrito uma história assim...

E outro:- Mas isso... Deve ser obra de algum anjo, que desceu do céu e soprou no ouvido de algum filósofo tagarela que soprou para algum poeta inspirado. É excepcional!

E quando alguém me perguntasse; De onde você tirou uma história assim?Eu emocionada diria: Não. Não é minha, eu a encontrei, em cima de uma montanha gravada numa pedra, esquecida....

E humildemente me despediria.

Han como eu queria escrever uma história assim!Mas... falta-me a montanha...ou... A pedra?

Escrito 11/02/1993

Li Chaves
Enviado por Li Chaves em 29/06/2010
Código do texto: T2348950