Boletim de ocorrência
Mário voltava da delegacia. Mais um B.O. Pela "milésima" vez seu posto de gasolina foi assaltado. Fato corriqueiro. Mais um roubo... mais um posto. Mais um boletim de ocorrência. Ladrões chegam, apontam armas, levam tudo: cheques, dinheiro, celular, sossego, suor e lágrimas.
Novidade? Não. O cidadão trabalha, a bandidagem se sustenta. O cidadão transpira para pagar impostos, pagar polícia, pagar ladrão. O que sobra para o trabalhador? Estresse, insegurança e persistência. Desistir? Nunca! "O brasileiro não desiste nunca!"
O incansável proprietário reassume o seu posto. Difícil manter a serenidade após desgastante visita à DP, mas continuar é preciso.
- Vamos pôr mais grades e câmeras. Da próxima vez estaremos mais protegidos - afirma seu Mário.
- Para quê? - responde o frentista - Já não há mais o que guardar. Levaram quase tudo. Graças a Deus nos deixaram a vida!
Mal fecha a boca surge um cara não sei de onde. Arma em punho. Ar de artista em estréia de espetáculo.
- Passa! Passa tudo ou abro fogo!
Espantado, o frentista olha para o proprietário. Este, mecanicamente, se dirige ao rapaz:
- Desculpe, meu jovem, você chegou tarde demais...
- O quê?! Que brincadeira é essa? Vamo, vamo! Passa a grana!
- Rapaz, o que resta no meu bolso é só isso aqui. Retira um papel amassado do bolso. Mostra ao assaltante.
-Esse boletim tem uma data bem fresquinha. Acabo de retornar da delegacia...
E já cansado daquilo tudo ironiza:
- Seu colega de profissão passou aqui primeiro e levou tudo. Desculpe-me... Se você tivesse chegado alguns minutos antes...
- Droga! - respondeu o meliante.
Guardou a arma e saiu.
Patrão e empregado se olham.
È o fim da picada!