A NOTÍCIA DE ZERO HORA ( possivelmente do final dos anos sessenta)
Policiais da Delegacia de Jogos e Costumes e agentes da Polícia FederaL estão procurando os hippies remanescentes da batida realizada pelo Exército realizada ontem. Pelo menos quarenta e cinco pessoas forma presas no tiroteio entre a polícia e um hippie. Apenas ontem forma presos doze hippies dos quais sete são mulheres. Os presos foram levados à Delegacia Regional da Polícia Federal. "Os hippies que estiverem com os documentos em dia serão explusos do Estado.Não tolero abusos de hippies. Dei ordem para caçá-los em toda a cidade, mesmo nos bairros mais distantes" disse o delegado de Jogos e Costumes, Gutemberg Oliveira.
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Vejam só com que a PF se ocupava naqueles áureos tempos. Imaginem o perigo que representavam aqueles guris um tanto confusos, para o regime autoritário. Tiroteio com hippies é, no mínimo, uma piada triste. Provavelmente este tal que portava uma arma era tudo menos um inofensivo daqueles chamados hippies. E observem o tom das palavras do delegado. Não que hoje a polícia não seja violenta, mas apesar de tudo a linguagem mais dura e possivelmente ainda empregada, não transpira mais nos meios de comunicação. Neste particular, não havia muita maquiagem, a linguagem era curta e rasa. Interessante como a forma com que os jornais se expressam mostram muito bem o espírito da época. Lembro de ter guardado um jornalzinho da minha cidade natal com a crônica social falando de um evento baile nos idos anos setenta. E a cronista literalmente criticou e falou mal da roupa de uma das senhoras presentes. Jornais e revistas são dessa forma, uma rica fonte de referências e retrato vivo de época e maneiras de ser e de pensar. E como esta notícia de uma abrangência local pode nos trazer os ares do momento histórico da Ditadura Militar com muito mais presteza até do que os acontecimentos mais noticiados em nível nacional, que, por serem muito comentados e repetidos em jornais, tendo virado filmes muitas vezes, acabam virando leitura da leitura o que lhes tira provavelmente, para quem ficar na superfície, a autenticidade que pode ser captada quando estamos mais perto do acontecimento.
Ferreira, o dono da velha página de jornal que contém a notícia, é artesão da Praça da Alfândega e se diz um herdeiro do trabalho artesanal começado por seu pai. Ele tem realmente peças muito bonitas e está presente num catálogo nacional de pessoas que se dedicam a trabalhos dessa natureza. Possivelmente o seu pai tenha sido um dos heróis da Praça preso naquele dia. E não existe pessoa mais pacífica, interessante e que parece viver muito bem com o seu modesto ganho , uma pessoa que vale a pena conhecer e curtir.