Uma nova geração
Lembro de um, inteligente e criativo, comercial de tevê de um curso de informática onde era enfatizado que Shakespeare escreveu vários textos e, Einstein várias teorias, mas isso sem o Word e o Excel. E a chamada se dava para uma nova geração de...gênios!
A campanha publicitária visava incentivar os potenciais alunos a juntarem ferramentas para serem grandes. Uma vez que gênios da história fizeram tanto com recursos primários.
Analisando todo esse contexto, me deparo com uma pergunta: Ao que essa geração tem sido melhor?
Sem querer ser saudosista, ainda mais porque não sou partidário dos que apregoam que antes tudo era melhor, mas vejo que não utilizamos as boas ferramentas e oportunidades que hoje detemos.
Durante o regime militar, os artistas eram impedidos de expressar sua arte sem serem censurados e muitos sofriam várias represálias, mas ao invés de abandonarem sua arte, pelo contrário, compunham com criatividade e deixaram várias canções para a posteridade. Eles lutaram para que pudessem ter espaço para divulgarem sua arte de maneira democrática.
Assim foram com os jornalistas, entre outros também, que eram vigiados de perto pelo regime e tinham que seguir a batuta dos generais que comandavam o país à época.
Muitos artistas, sociólogos, ativistas políticos e outras classes foram duramente perseguidos e tiveram que recolher ao exílio político, tudo para que as gerações futuras não vivessem aquilo que eles estavam vivendo.
Pois bem, o regime militar foi derrubado no Brasil e povo pôde ter acesso à democracia, mas, não sei o porquê, não soubemos usufruir do trabalho dos nossos antecessores.
O primeiro presidente escolhido pelo voto popular sofreu processo de impeachment, e fomos nos adequando a várias políticas econômicas e sociais de governo, que, sempre, agrada a uns e desagrada a outros.
Vladimir Herzog, Henfil, Élio Gaspari, entre muitos outros jornalistas, lutaram muito para que as noticias fossem conhecidas por demais, mas hoje o que vemos é uma inflamação de jornais de quinta categoria, não critico a abordagem popular, uma vez que não é pecado substituir explanar por falar, mas a abordagem que se dá com manchetes do tipo: “Do pó vieste, pelo pó passaste, ao pó voltarás. Overdose de cocaína mata o ex de Susana Vieira”. Ou o que dizer de um livro que será lançado por um ex-participante de um reality-show global que contará sua autobiografia com toques de ‘poesia’. Ou então, dum participante de um programa de uma emissora que indaga quem é esse tal de (José) Saramago que estão falando aí? Ao que é interrompido por outro participante que diz: “ele ganhou um Grammy”.
Esconderam as notícias de política e economia da maioria da população, incutiu-se o conceito de que são assuntos chatos e com isso, o povo vota mal e não compreende o seu papel como cidadão.
Ao analisar a letra de O bêbado e a Equilibrista, de Aldir Blanc e João Bosco, vejo como eles, através de uma composição, fizeram altas críticas ao governo militar da época de maneira muito criativa. Chico Buarque, ao cantar Jorge Maravilha, fazia uma crítica irreverente aos militares que o prendiam, mas pediam que ele autografasse seus discos para suas filhas (Você não gosta de mim, mas sua filha gosta).
E, hoje, além do jogo de vogais das músicas baianas, temos que nos ver bombardeados por músicas que falam de amor platônico ou de comportamentos e posições sexuais.
A questão não é o ritmo, mas a letra em si. Uma vez que isso não é problema do funk, do pagode, do forró ou do axé, porque até o, antes político, rock deixou sua identidade para trás e o que vemos é o crescimento da moda emo, onde há pobreza de letras e principalmente de melodias, uma vez que todas são muito similares.
Hoje, temos computador pessoal, Internet banda larga, lan houses, mas ao invés de procurarmos algo, além do entretenimento, nos prendemos a boatos e conspirações.
É lógico que uma pessoa possuir cultura, não quer dizer que ela só leia o jornal O Globo, livros de Fernando Sabino e ouça músicas de Elis Regina e Vinícius de Moraes, mas não fará mal a ninguém saber quais foram suas obras.
Bem como disse um artista, que em nada se acomoda aos meus gostos, mas foi brilhante na afirmação: “Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.