INTERNET. ESQUIZOFRENIA. DOENÇA E ARTE.

Toda a primeira página de “O Globo” dominical, segundo caderno e quase integralmente suas folhas dois, são dedicadas a Rodrigo de Souza Leão, que sofria de esquizofrenia. Nem por isso deixou de ser reconhecido como artista que era, um criativo das letras editadas, mas também dedicado à recepção em internet e em seu blog, LOWCURA, que faziam parte de sua clausura impositiva.

Nasceu antes da informática em seu alcance atual. Foi formado em jornalismo, pintava, tem variadas telas, sabia, porém, e assim externou, que seu destino era a literatura.

Encerrado em casa por vinte anos, sendo antes assessor de seguros da Caixa Econômica Federal, não escrevia por “charme ou pedantismo”, como sinaliza Arnaldo Bloch. Escrevia para enfrentar a doença, e o fazia com o reconhecimento de ser realmente um artista, e o era. Enalteceu a conhecida psiquiatra Nise da Silveira a quem reconheceu dedicação com os doentes.

Imputava a todos os doentes serem tratados na mesma vala comum, arredia a ciência aos necessários tratamentos específicos; esquizofrênicos, bipolares, alcoólatras. Em 27/06/2009, escreve no Jornal do Brasil, sic: “Fui internado apenas duas vezes, ainda bem, porque o eufemismo clínica é um lugar no qual não me adequo. Na verdade, o que existem são os hospícios. Lugares onde todos os loucos estão misturados. Todo mundo junto: alcoólatras, esquizofrênicos, bipolares, dependentes químicos, etc. Ou seja, louco é tratado como gado. Todos iguais, quando até os psiquiatras sabem que cada um é especial. Cada loucura pode se manifestar de forma diferente, dependendo do caso”.

Precisamos ter respeito com as limitações de todos, entendê-las. Ninguém é surpreendido por esses obstáculos por vontade originária.

Morreu na segunda internação que insistiu em concretizar contra a vontade de seu pai médico e de seus familiares. Morreu prematuramente, aos 43 anos. Seus quadros serão doados à Casa de Rui Barbosa.

Seu segundo livro encantou a crítica, dele disse Affonso Romano de Sant’Ana, com quem se correspondia: “Ele habitava um espaço ambíguo onde alucinação e arte de superpõem”.

“Me roubaram os dias contados”, seu último livro, será lançado dia 2. É autobiografia pulsante e concomitantemente acervo de ficção diferente; literatura ficcional erudita rica em imagens. De seu mundo e de suas imagens exuberantes surge nosso mundo, como diz a escritora Suzana Vargas que se diz emocionada ao ler sua obra.

Também fiquei sensibilizado com seu artigo “Direitos”.

Estamos diante da linha fronteiriça que não conseguiu esconder o artista que até mesmo blog criou, LOWCURA, cativando seus leitores. Precisava estar em contato com o mundo como todos, compulsivos e doentes em geral, em casa encerrados na compulsão e no gênero das limitações incontroláveis armadas pelo destino.

O sucesso de “Todos os cachorros são Azuis”, descritivo do aparecimento de sua doença, interrompeu um romance de envergadura, “Me roubaram os dias contados”, itere-se, que será lançado no dia dois, primeiro ano de sua morte.

Me bastaria de seu blog essa verdade que adito em seguimento, e uma parte de "DIREITOS", encontrável no mesmo espaço.É um tratado de princípios que a inconsciência consciente mesmo na doença vê e os ímpios não praticam. Vou transcrevê-lo integralmentre em outro artigo.

CELSO PANZA

“Entendi o funcionamento do cérebro humano.

Um duplo sem fim

Algo diz sim e algo diz não

E vence sempre o sim

Se a mente for um cetim

Posted by Rodrigo de Souza Leão at 6:54 AM 1 comments

DIREITOS.

"Deveres humanos são direitos quando um míssil percorre o azul do olho de uma criança que suspira um horizonte de chamas. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. A humanidade cinza de quem desfigura um índio na calçada e joga as tranças de Rapunzel pela janela da própria boca. Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação."

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 28/06/2010
Reeditado em 28/06/2010
Código do texto: T2346088
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