Não gosto de futebol
Certamente sou uma brasileira falsificada. Não gosto de futebol. Daí, desconfiar que não sou brasileira. Acho no mínimo, sem sentido aquele corre-corre por uma bola que na verdade, nada representa. Recuso-me a aceitar que meu país é representado por limitados jogadores que nada mais fazem, a não ser, correr atrás de uma bola. Recuso-me a ser representada por eles.
Bem, dito isso, está explicado como me sentí uma estranha no ninho quando fui convocada para assistir o jogo do Brasil na granja da família. Imaginem! E, a situção piora bastante quando sabem que Portugal é minha segunda pátria. Mas, lá vou eu usufruir da companhia dos familiares e da comilança.
Num quarto, uma infinidade de apetrechos verde e amarelo. Camisas, apitos, óculos e até perucas formavam o guarda roupa de fantasias, perfeito. Na cozinha, quitutes exalavam um cheiro sem igual, iam da lagosta ao camarão, da carne de sol á galinha de capoeira. O churrasqueiro avivava as brasas para o churrasco. A bebida, toda estúpidamente gelada. Nas varandas, redes estendidas esperavam os mais afoitos na bebida. A decoração então, nem se fala. Bandeirolas, balões, tudo verde e amarelo. Uma brasilidade desmedida tomava todos os presentes. Para um espetáculo de tal magnitude, foi adquirida uma grande televisão de última geração, que foi colocada na varanda para que todos pudessem assistir ao jogo. O circo estava montado. Todos ansiosos, ridiculamente fantasiados de Brasil. Os corações disparados colocavam nas chuteiras dos "heróis", a vida da nação.
Mas, o pior estava por vir. O impossível, acontece. Simplesmente a tal televisão nâo funciona. Desespero total. Uns correm para ver se era problema na antena, outros se postam por trás da televisão tentando encontrar a razão de tamanha desdita. A cada mínimo barulho que ela fazia, suspiros...Mas, a moderna televisão simplesmente se recusava a transmitir tão importante acontecimento. Fazer o que nessa hora de desespero completo?Escutar pelo rádio seria imoral. Nessa hora, já estava começando o segundo tempo, quando o churrasqueiro salva a pátria. Numa casinha perto da granja, tinha uma televisão. Todos os convidados saíram em disparada em busca do famoso aparelho. Naquela hora, vital. Eram duas casinhas, e, dois grupos de convidados foram formados. Eu fiquei na casinha de compadre. A televisão ficava na camarinha. Eram pequenas a camarinha e a tv. Compadre tomava uma caninha com piaba, e, logo aceitei acompanha-lo na degustação da iguaria. Nos acomodamos em tamboretes, uns colados nos outros. Fiquei a imaginar se o Brasil fizesse um gol, o que seria do compadre...melhor nem pensar. Em determinada hora, ví um jogador segurar Cristiano Ronaldo pela camisa, e, um sonoro "solta ele", deixei escapar. Pra que? Entre gritos de traidora, fui convidada a me exilar no pé de juá.
Termina o jogo. Nada de gols. Mas, sempre havia um consolo, uma justificativa...eles tinham se poupado. Que frustração!
Voltamos todos para a granja, mas, um sabor de decepção perseguia a todos, mesmo que não quisessem aceitar.
Só eu continuava minha tragetória de "persona nom grata" nos jogos daqui por diante.
Não perderei grande coisa.