QUERO UMA CASA NO CAMPO...

Comprado o terreno, comecei a fazer planos para a casa de campo. Devia ser simples, condizente com sua finalidade. Porém não muito pequena, já que imaginávamos ali receber visitas. Passei a colecionar revistas de Arquitetura, de Construção, de Jardins... e dada que sou a arquiteta de araque, logo passei também a rabiscar plantas.

Eu imaginava uma casa clara, térrea, com um bom terraço. Tudo muito prático, de fácil circulação. Folheando as revistas, entretanto, percebi que a moda na época, o chique do momento, era o piso em desníveis. Separando a sala de jantar da área de estar, dois degrauzinhos. Para se chegar à ala dos quartos, três degrauzinhos. Na saída para o terraço, outros mais... Enfim, um sobe-e-desce sem parar. Sem muita animação para tanto, eu dizia que não queria uma casa assim. Já havia morado muito tempo em sobrados, sabia muito bem o que era aquilo. Mas todo mundo retrucava, ia ficar tão bonito...

Confesso que cheguei a ficar tentada. De fato era bonito, destacava os ambientes. Mas por outro lado, comecei a pensar nos ocupantes da casa. Em primeiro lugar, nas crianças. As minhas e as que viriam com elas. Já pensou? Na louca correria infantil, uns três acidentes aconteceriam por dia. E lá se iriam por água abaixo as delícias do final de semana campestre. Velhos não havia, tanto papai, assim como mamãe e minha sogra ainda estavam em boa forma.

Confesso que além disso pensei em nós. Em mim mesma, no meu marido e nos amigos que certamente viriam. Depois de longas horas em torno de um bom churrasco regado a muitas caipirinhas, não iríamos também nós tropeçar naqueles malditos degrauzinhos?

Pelo sim, pelo não, finalmente decidi o projeto: casa totalmente plana. Ficou ótima!

O tempo passou, as crianças cresceram. Meus velhos já se foram, a sogra aqui não vem mais. De casa de campo, ela virou residência oficial. Atualmente os amigos freqüentadores - que continuam a beber caipirinha - têm que tomar muito cuidado com os tapetinhos que espalhei por todo canto...