Novos ventos, um sopro na alma
Era uma daquelas manhãs bem frias, cujo vento gelado insistia em conviver com as ondas quentes do sol e um vibrante céu azul. Ao me dar conta de tal condição lá fora, deixei a cama decidida a fugir um pouco das paredes apertadas do meu apartamento, ainda conturbado pela recente mudança.
Depois de toda a rotina matinal, fiz os últimos ajustes na echarpe verde que enrosquei cuidadosamente em meu pescoço. Sem que pudesse controlar, meus olhos se detiveram por alguns segundos no reflexo do meu rosto, que exibia uma expressão exausta: misto de cansaço, esperança e saudade.
Certifiquei-me de que tudo em casa estava em ordem – luzes apagadas, inclusive -, me dirigi à porta e, apressada, girei a chave pela fechadura em busca do ar fresco tão urgente. A clausura, associada à vontade de estar a quilômetros dali, me sufocava.
Desde que passei a viver sozinha, cultivo ainda mais a mania de observar as pessoas quando saio pela rua. É uma forma curiosa de ocupar o vazio. Naquele dia, todos estavam abraçando a si próprios para evitar os cortes do vento, o qual fazia com que os cabelos mais rebeldes dançassem em um ritmo semelhante ao do embalo das folhas das árvores. A passos rápidos, eu também me presenteei com um “autoabraço”, mas elevei minha face a fim de buscar o máximo possível daquele frescor revigorante. A vida pulsava em cada célula do meu corpo, finalmente.
Cansada de andar, busquei meu banquinho preferido na praça que fica próxima à minha casa. Gosto daquele banquinho em especial e não dos demais porque ele é azul turquesa. Por algum motivo que ainda não sei qual, apesar de a minha imaginação ir a mil, ele foi pintado diferentemente dos demais, que são marrons e desbotados. Pelo simples fato de ser um em tantos, gosto dele.
Às vezes, penso que sou como este pobre assento: um pouco perdido e deslocado. Ah, se ele pudesse ouvir meus pensamentos e anseios quando estou com ele... E me dar conselhos, talvez. Sinto que ele me diria: “vá buscar sua felicidade sem medo! Seu trabalho é digno, porém seus sonhos são infinitos. Acredite mais.”
Eu me dei conta, naquele momento, de que era capaz de mudar minha própria história. Meu espírito vislumbrou a paz. Voltei correndo, bailando com o vento, para reencontrar meu coração.