Aprendizagem
Sentado em frente ao teclado.
Recebi um desejo, que considerei coberto de sinceridade. Teria eu aprendido algo durante minha existência? Talvez sim. Talvez não. Depende sobremaneira do foco e do escopo dado como sentido direto ou subjacente ao “algo”.
Sou humano, animal. Sou saudável, neurologicamente. Com certeza algo eu aprendi. Mas que algo será o que aprendi. Terá valido a pena o que aprendi?
Vivi cinquenta anos.
O que nos derruba é o sentido semântico passado. Entre a linguagem denotativa e a linguagem conotativa existem mais possibilidades do que possa nossa vã filosofia estimar. Mesmo no seu sentido denotativo, a linguagem, e o seu sentido primário, que é o que mais me importa agora, possui inúmeras variações.
Em geral, as palavras têm origens em passado remoto. O tempo passa, e cada tempo, pode ter dado um sentido próprio adaptado. A geografia é outro agravante. Vivemos em um mundo globalizado a muito pouco tempo. As longas distâncias criavam ilhas geográficas específicas onde a cultura e a linguagem denotativa passava a ter uma vida própria, localizada.
Apenas no mundo do sentido conotativo, dentro de uma mesma época, dentro de uma mesma área geográfica, a mesma palavra pode ter sentidos múltiplos, variando na idade média de quem a use, na classe social envolvida, e no grau de cultura adquirido. Quando entramos no mundo poético, esta possibilidade sofre uma verdadeira explosão exponencial.
Aprendi algo? Esta é a questão.
Posso ter aprendido algo cognitivamente, mas não por experiencia. Devo considerar isto como aprendido.
Como humano, ou como alguém que busca ser humano, eu ousaria afirmar que de nada vale um conhecimento meramente cognitivo quando o assunto tratar de:
- Ética,
- Princípios de vida,
- Da luta pelos direitos dos outros,
- Da defesa ativa do direito a liberdade de expressão, onde mesmo não acreditando, defenderei o direito às crenças; e ainda que achando de uma certa irracionalidade, sempre irei na defesa dos que acreditam em revelações ou em dogmas.
Nestes casos, o simples aprender cognitivo, não é nada. Necessita-se da coragem de sairmos de nosso casulo e expormos nossas ideias e nossos corpos à tapas.
Enfim, quando estivermos lidando com ética, dignidade humana, educação verdadeira, amor universal, caridade real, ou assuntos que se alinhem a nossa mais pura humanidade, o conhecimento cognitivo serve apenas para nos escondermos e nos maquiarmos.
Nestes casos, apenas quando aliamos o conhecimento adquirido, com a experimentação física, mental e psicológica dos diversos eventos, é que poderíamos nos arvorar a afirmar que algo aprendemos.
No resto, cientifico ou não, basta o conhecimento cognitivo.
Agora, aprendi algo? Sim ou não?
Acho que a vida de alguém nos ajuda a entender o quanto este alguém aprendeu.
Hoje sou humanista secular, e materialista. Mas nem sempre foi assim.
Alguns diriam que nasci cristão. Mentira. Ninguém nasce com religião alguma.
Nascemos apenas humanos, com todo nosso lado animal.
Ninguém nasce cristão, como não nasce engenheiro simplesmente por nascer em uma família de engenheiros, ou nasce assassino simplesmente por nascer em uma família com assassinos.
Não nascemos uma tábula rasa, como alguns acreditam, mas nascemos muito mais animais do que verdadeiramente humanos. Nascemos moldáveis, esta é uma das armas maravilhosas de nosso plástico cérebro.
Somente a educação, o carinho, os exemplos e o amor, principalmente nos primeiros momentos, vai nos fazendo descobrir como é bela a vida e o amar. E aqui a mãe, ou alguém que supra o papel da mãe é de vital importância
Cresci em uma família cristã. Assim tornei-me cristão. Mesmo nesta fase, me era muito difícil aceitar os dogmas religiosos e as revelações como fonte de verdade. Irreal aceitar os dogmas como verdades, posto que são impossíveis. Mesmo em suas imagens simbólicas, me era difícil aceitar, posto que seria mais justo que se fosse direto ao sentindo desejado, do que ficar envolto em lençóis de múltiplos sentidos. Atitude típica dos que desejam mascarar algo ou permitir propositalmente múltiplas interpretações.
Quanto a aceitar revelações como verdades me é totalmente inaceitável. Verdades devem ser evidenciáveis. Assim não são necessárias as revelações. Diferentes religiões possuem diferentes revelações, e muitas vezes com sentidos antagônicos. Revela quem quer, acredita quem deseja, ou quem tem medo de racionalizar sobre as revelações.
Observando o mundo, lendo conforme minha parca inteligência permitia, deixei de ser teísta e passei a ser deísta. Tinha como perspectiva de que isto acabava com qualquer deus onipresente, onipotente ou onisciente. Permitia a existência de um deus, mas que não agia sobre sua criação. Me era interessante saber que Einstein era deísta. Ele não aceitava religiões, mas respeitava quem as tinha. E eu entendia ser um comportamento muito correto. Fui deísta por algum tempo.
Quanto mais observava o mundo, o social que muito me encanta, mas também os mundos físicos, químicos, biológicos e neurológicos, mais eu sentia que não poderia ter havido nenhum projeto.
Quanto mais eu observava a evolução, a grandeza do universo, as físicas quânticas e relativistas, quanto mais eu observava em meus estudos a anatomia dos animais, cada vez mais percebia falhas de projeto que eram inadmissíveis para um deus.
Mas todos os meus amigos e familiares entendiam o ateísmo como um defeito. Me mantive vergonhosamente escondido por traz do deísmo por algum tempo.
Casei.
E fecundei uma nova vida.
Aqui eu aprendi algo. Esta vida, apesar de não ser minha, dependeria dos meus exemplos para se estruturar como humano. E como ser verdadeiro em minhas ações se me escondia, com medo dos outros, atrás de um deísmo que não mais aceitava. Poderia definir-me um agnóstico, mas ainda assim seria mentira. Não me era indiferente a existência ou não de um deus, me era impossível acreditar nele.
Assumi uma posição da qual hoje tenho certo orgulho. Apesar de todas as críticas, revelei ser ateu.
O mundo caiu. Amigos se esconderam de mim. Até hoje tenho conhecidos que não me aceitam em seus orkuts, por vergonha de terem amigo ateu.
Quando assumi ser materialista foi pior ainda. Como poderia dar mais valor a bens materiais? Visão medíocre dos que assim pensam, dos que sem conhecimento de causa falam apenas por ouvir dizer.
Investi muita energia divulgando o que é ser materialista, o que é ser humanista secular, e que posso ser ateu e ser mesmo assim um ser que busca a dignidde humana acima de tudo. Que posso muito bem viver sem nenhum motivo.
Que o amor me basta.
Que a ética me basta.
Que a dignidade da vida deve ser meu único motivo.
Quantos me rebatiam que era impossível ser bom, sem crer em deus, e sem ter uma religião. Foi muito difícil. Mas pelos meus filhos assumi, e sou muito feliz hoje. Posso ser tudo que sou e agir em minha completude para com eles.
Se mais nada aprendi. Aprendi a ser sincero.
Aprendi a buscar ser ético.
Aprendi a valorizar a vida, não a minha vida ou somente a dos meus filhos, sequer somente a vida humana, valorizo a vida em todas as suas representações, biológicas ou mentais ou sociais.
Aprendi, a muito mais do que respeitar as opiniões discordantes, aprendi a defender o direito que eles possam expressa-la, diferentemente do que fizeram comigo.
Aprendi que ser humano é difícil, mas possível.
Aprendi que buscar a felicidade não é vergonhoso, que a devo buscar incessantemente, desde que não interfira com a dignidade de ninguém.
Aprendi, e continuo aprendendo, que quanto mais eu acredito que sei, mais tenho certeza do quanto falta aprender.
Desta forma creio sinceramente que tenha valido a pena o que eu aprendi.
E que a curiosidade continue sendo minha mola mestra na busca de novos aprendizados.
PS: Amar meus filhos, não precisei aprender, pois a genética fez a parte dela, e meus filhos ajudaram muito. Eles são fantásticos. Eu é que devo muito do que aprendi a eles. Um dia eles talvez tenham esta ciência.
Obrigado Vida.
Obrigado Meus filhos.
Obrigado meus amigos, vocês ajudaram a moldar minha certeza.
Obrigado NATUREZA, te amo de montão.
Sentado em frente ao teclado.
Recebi um desejo, que considerei coberto de sinceridade. Teria eu aprendido algo durante minha existência? Talvez sim. Talvez não. Depende sobremaneira do foco e do escopo dado como sentido direto ou subjacente ao “algo”.
Sou humano, animal. Sou saudável, neurologicamente. Com certeza algo eu aprendi. Mas que algo será o que aprendi. Terá valido a pena o que aprendi?
Vivi cinquenta anos.
O que nos derruba é o sentido semântico passado. Entre a linguagem denotativa e a linguagem conotativa existem mais possibilidades do que possa nossa vã filosofia estimar. Mesmo no seu sentido denotativo, a linguagem, e o seu sentido primário, que é o que mais me importa agora, possui inúmeras variações.
Em geral, as palavras têm origens em passado remoto. O tempo passa, e cada tempo, pode ter dado um sentido próprio adaptado. A geografia é outro agravante. Vivemos em um mundo globalizado a muito pouco tempo. As longas distâncias criavam ilhas geográficas específicas onde a cultura e a linguagem denotativa passava a ter uma vida própria, localizada.
Apenas no mundo do sentido conotativo, dentro de uma mesma época, dentro de uma mesma área geográfica, a mesma palavra pode ter sentidos múltiplos, variando na idade média de quem a use, na classe social envolvida, e no grau de cultura adquirido. Quando entramos no mundo poético, esta possibilidade sofre uma verdadeira explosão exponencial.
Aprendi algo? Esta é a questão.
Posso ter aprendido algo cognitivamente, mas não por experiencia. Devo considerar isto como aprendido.
Como humano, ou como alguém que busca ser humano, eu ousaria afirmar que de nada vale um conhecimento meramente cognitivo quando o assunto tratar de:
- Ética,
- Princípios de vida,
- Da luta pelos direitos dos outros,
- Da defesa ativa do direito a liberdade de expressão, onde mesmo não acreditando, defenderei o direito às crenças; e ainda que achando de uma certa irracionalidade, sempre irei na defesa dos que acreditam em revelações ou em dogmas.
Nestes casos, o simples aprender cognitivo, não é nada. Necessita-se da coragem de sairmos de nosso casulo e expormos nossas ideias e nossos corpos à tapas.
Enfim, quando estivermos lidando com ética, dignidade humana, educação verdadeira, amor universal, caridade real, ou assuntos que se alinhem a nossa mais pura humanidade, o conhecimento cognitivo serve apenas para nos escondermos e nos maquiarmos.
Nestes casos, apenas quando aliamos o conhecimento adquirido, com a experimentação física, mental e psicológica dos diversos eventos, é que poderíamos nos arvorar a afirmar que algo aprendemos.
No resto, cientifico ou não, basta o conhecimento cognitivo.
Agora, aprendi algo? Sim ou não?
Acho que a vida de alguém nos ajuda a entender o quanto este alguém aprendeu.
Hoje sou humanista secular, e materialista. Mas nem sempre foi assim.
Alguns diriam que nasci cristão. Mentira. Ninguém nasce com religião alguma.
Nascemos apenas humanos, com todo nosso lado animal.
Ninguém nasce cristão, como não nasce engenheiro simplesmente por nascer em uma família de engenheiros, ou nasce assassino simplesmente por nascer em uma família com assassinos.
Não nascemos uma tábula rasa, como alguns acreditam, mas nascemos muito mais animais do que verdadeiramente humanos. Nascemos moldáveis, esta é uma das armas maravilhosas de nosso plástico cérebro.
Somente a educação, o carinho, os exemplos e o amor, principalmente nos primeiros momentos, vai nos fazendo descobrir como é bela a vida e o amar. E aqui a mãe, ou alguém que supra o papel da mãe é de vital importância
Cresci em uma família cristã. Assim tornei-me cristão. Mesmo nesta fase, me era muito difícil aceitar os dogmas religiosos e as revelações como fonte de verdade. Irreal aceitar os dogmas como verdades, posto que são impossíveis. Mesmo em suas imagens simbólicas, me era difícil aceitar, posto que seria mais justo que se fosse direto ao sentindo desejado, do que ficar envolto em lençóis de múltiplos sentidos. Atitude típica dos que desejam mascarar algo ou permitir propositalmente múltiplas interpretações.
Quanto a aceitar revelações como verdades me é totalmente inaceitável. Verdades devem ser evidenciáveis. Assim não são necessárias as revelações. Diferentes religiões possuem diferentes revelações, e muitas vezes com sentidos antagônicos. Revela quem quer, acredita quem deseja, ou quem tem medo de racionalizar sobre as revelações.
Observando o mundo, lendo conforme minha parca inteligência permitia, deixei de ser teísta e passei a ser deísta. Tinha como perspectiva de que isto acabava com qualquer deus onipresente, onipotente ou onisciente. Permitia a existência de um deus, mas que não agia sobre sua criação. Me era interessante saber que Einstein era deísta. Ele não aceitava religiões, mas respeitava quem as tinha. E eu entendia ser um comportamento muito correto. Fui deísta por algum tempo.
Quanto mais observava o mundo, o social que muito me encanta, mas também os mundos físicos, químicos, biológicos e neurológicos, mais eu sentia que não poderia ter havido nenhum projeto.
Quanto mais eu observava a evolução, a grandeza do universo, as físicas quânticas e relativistas, quanto mais eu observava em meus estudos a anatomia dos animais, cada vez mais percebia falhas de projeto que eram inadmissíveis para um deus.
Mas todos os meus amigos e familiares entendiam o ateísmo como um defeito. Me mantive vergonhosamente escondido por traz do deísmo por algum tempo.
Casei.
E fecundei uma nova vida.
Aqui eu aprendi algo. Esta vida, apesar de não ser minha, dependeria dos meus exemplos para se estruturar como humano. E como ser verdadeiro em minhas ações se me escondia, com medo dos outros, atrás de um deísmo que não mais aceitava. Poderia definir-me um agnóstico, mas ainda assim seria mentira. Não me era indiferente a existência ou não de um deus, me era impossível acreditar nele.
Assumi uma posição da qual hoje tenho certo orgulho. Apesar de todas as críticas, revelei ser ateu.
O mundo caiu. Amigos se esconderam de mim. Até hoje tenho conhecidos que não me aceitam em seus orkuts, por vergonha de terem amigo ateu.
Quando assumi ser materialista foi pior ainda. Como poderia dar mais valor a bens materiais? Visão medíocre dos que assim pensam, dos que sem conhecimento de causa falam apenas por ouvir dizer.
Investi muita energia divulgando o que é ser materialista, o que é ser humanista secular, e que posso ser ateu e ser mesmo assim um ser que busca a dignidde humana acima de tudo. Que posso muito bem viver sem nenhum motivo.
Que o amor me basta.
Que a ética me basta.
Que a dignidade da vida deve ser meu único motivo.
Quantos me rebatiam que era impossível ser bom, sem crer em deus, e sem ter uma religião. Foi muito difícil. Mas pelos meus filhos assumi, e sou muito feliz hoje. Posso ser tudo que sou e agir em minha completude para com eles.
Se mais nada aprendi. Aprendi a ser sincero.
Aprendi a buscar ser ético.
Aprendi a valorizar a vida, não a minha vida ou somente a dos meus filhos, sequer somente a vida humana, valorizo a vida em todas as suas representações, biológicas ou mentais ou sociais.
Aprendi, a muito mais do que respeitar as opiniões discordantes, aprendi a defender o direito que eles possam expressa-la, diferentemente do que fizeram comigo.
Aprendi que ser humano é difícil, mas possível.
Aprendi que buscar a felicidade não é vergonhoso, que a devo buscar incessantemente, desde que não interfira com a dignidade de ninguém.
Aprendi, e continuo aprendendo, que quanto mais eu acredito que sei, mais tenho certeza do quanto falta aprender.
Desta forma creio sinceramente que tenha valido a pena o que eu aprendi.
E que a curiosidade continue sendo minha mola mestra na busca de novos aprendizados.
PS: Amar meus filhos, não precisei aprender, pois a genética fez a parte dela, e meus filhos ajudaram muito. Eles são fantásticos. Eu é que devo muito do que aprendi a eles. Um dia eles talvez tenham esta ciência.
Obrigado Vida.
Obrigado Meus filhos.
Obrigado meus amigos, vocês ajudaram a moldar minha certeza.
Obrigado NATUREZA, te amo de montão.