Camalote

Quando ocorre a cheia no Pantanal sulmatogrossense, adoro correr até a barranca do rio para ver as ilhotas ...verdinhas...descendo a vida à mercê das águas.

Nós aqui do pantanal te chamamos CAMALOTE , mas há ainda os que te chamam PARIATA , e juro que até hoje não descobri exatamente o por quê... Também ... isso não importa, o que importa mesmo é ver esse balé maravilhoso que fazes quando desces o rio, deixando-se levar sem medo do desconhecido.

Quem tem a curiosidade de tocar-te as folhas,as verão amorosas, formato quase de coração, talos largos feito horta (ou seria orta?...sei lá...não sou cardiologista...a minha intimidade com as letras me dá o direito de brincar com elas).

Mas como eu ia dizendo , teus talos parecem veias do coração, são grossos , pulsantes...E se o quebramos, teimosia é o que não te falta, quando colocado novamente na água,revives antes do terceiro minuto e ganhas novamente o viço da juventude. Olhe que se duvidarmos és capaz de nos dar uma flor de presente...

Além de um filho quieto, acomodado nas barrancas, ou um desagarrado descendo as águas do rio, te vejo como um termômetro da cheia. Avisas o pantaneiro que o rio está subindo... Te soltas das barrancas e desces o leito como quem grita:

___ÁÁÁÁÁÁÁÁGUUUAAAA!!!!...

E aí ... vem a cheia.