DÚVIDAS
                         OU A GATINHA DO FÔRRO DO CATETINHO

 
Modese está lá sozinha tendo filhotinhos de vez em quando, sem ninguém para ajudá-la.
Para amá-la.
Para lhe dar um nome.
Os últimos quatro que teve eram tão lindos. Todos amados, e tanto.
 
Mas as meninas disseram que sumiram. Que sempre somem.
Morrem?
Estes bichinhos queridos e não estou lá para cuidá-los.
E eu amo tanto o Catetinho.
E amo a gatinha sem nome que lá habita e não deixa entrar rato ou barata. A casa está sempre limpa de insetos. Ali se pode entrar, deitar e dormir em paz, de janelas e porta abertas. Que bichinho mais modese esta gatinha sem nome.
“Querida, e eu te amo tanto! E você é a moradora da minha casa!”
 
Estou tão velha querida, tão limitada de me locomover!
 
E estou tão viva!
 
Vou aí, Filhinha, passar uns dias. Acender o fogo e sair fumacinha pela chaminé. A casa ficará quentinha. Ao longe, todos verão que você tem companhia; que você nunca foi só
Que você tem quem te ama e cuida. Quem te quer como você me quer.
Levarei carninha fresca moída e leite. E vamos acender todas as luzes.
Cuidar do jardim lá fora se tiver um solzinho. Meu Doce me aguarde.
Nem sempre as pessoas nos amam. Mas eu te amo, viu?

Há coisa que não são ditas e foram percebidas, mas censuradas para não perceber e entender.
E esta atitude subentende amor, carinho, confiança e crédito de correção absoluta.
Mas sempre tem _ momento próprio para se ver com olhos abertos.
Há quatro anos, quando o Sávio estava no fim, o filho cuidando dele com desvelo, na casa agora abandonada, o filho me tratou como se eu fosse uma invasora, como se eu estivesse invadindo “privacidade sagrada", foi quase agressivo. No olhar.
Tudo mudou desde o Natal de dois mil e nove.
 
Mas no forro do Catetinho, uma gatinha cuida da minha casa, mantém tudo limpinho e bom. Eu sei que ela me espera.

Eu vou.
                                                                    p/ Angela do Atelier