O que eles sentem
Olhando triste para a parede branca, ela pensava: “Como pode ser tão difícil conseguir carinho? Existe sempre outra coisa a fazer?”
Inspirou fundo, estufando a barriga, e soltou o ar melancolicamente. Deitou-se. Seus ouvidos escutavam a tudo que acontecia na casa, mas seus olhos nada viam. Ela esperava o sono chegar para tirá-la da espera.
“Sei que sou amada, e só queria mais demonstrações desse amor. — ela continuava a vagar em pensamentos.“Mas sei que peço muito, muitas vezes. Não tenho mais o que fazer se não esperar.”
Fechou os olhos e ajeitou-se confortavelmente no chão frio. Aguardou e, sem muita demora, o sono veio. Momentos depois, sentiu uma mão afagar sua cabeça loira. Abriu os olhos, lentamente demais para saber de quem era a mão.
Levantou-se devagar a caminhou até a pessoa mais próxima, a mulher de vinte e poucos anos que falava ao telefone. Pediu atenção com o olhar, sem atrapalhar a conversa da mulher, e recebeu uma rápida e impaciente carícia antes que a mulher se afastasse.
Ela pensou em tentar novamente, como já havia tentado diversas vezes naquele dia. Pensou em ir até uma das outras pessoas extremamente importantes para ela, mas desistiu. Enquanto caminhava de volta para onde estava, ela ouviu a voz doce e fina da criança de quatro anos:
— Suzi, vem aqui!
A felicidade e a esperança tomaram conta dela. Abanando o rabo freneticamente, ela correu para a cama onde a menina a esperava, quase a derrubando ao se debruçar sobre ela. A cadela aproveitou, então, a tão cobiçada atenção, o tão necessário carinho. Lambia o rosto meigo da criança enquanto sentia as mãos pequenas em seu pelo dourado.