Vida, esta sublime complexidade
Vida, esta sublime complexidade
 
 
       Não obstante a dificuldade que estrutura e dá sustentação a uma vida, a beleza que transforma o físico e o químico, no auto-sustentável biológico, é mesmo assim, muito pouco, frente a complexidade necessária para dar vida menta e consciente, ao neurobiológico. O mental é orgânico, mas não menos misterioso, quase miraculoso e transcendental.
 
       A biologia neurológica dá vida a algo imaterial, totalmente transparente, mas mesmo assim real, biológico e por conseguinte químico e físico.
 
       A existência é de uma dinâmica incrível, e possui graus de complexidades diferentes. Assim, apenas por simplicidade, podemos estruturar o existente em níveis gerais desta complexidade.
 
       O primeiro nível, o mais elementar, e não por isso simples, posto que muitas vezes é totalmente não intuitivo, é o mundo da física. Física quântica (microcosmos) ou física relativista (macrocosmos), são a malha estrutural básica que dão sustentação a todo o restante. Desta forma, nada pode, por definição, ir contra os princípios físicos.
 
       O segundo nível é o da química. A física trabalha no nível mais básico, e geralmente trabalha com poucas unidades elementares, do que está estudando.
 
       Quando esta complexidade cresce, quando precisamos trabalhar com números de elementos gigantescos, necessitamos da química. Entretanto, nada na química pode ser contrário, em sua essência, ao que define a física.
 
       O grau de complexidade da química é muito superior ao da física. Não estou falando em grau de dificuldade de entendimento ou de aprendizado. No geral a química é mais simples de ser cognitivamente entendida do que a física. Refiro-me ao grau de complexidade de sabermos o que realmente esteja acontecendo com cada um dos átomos envolvidos. Na química a quantidade de elementos é altíssima. Por exemplo, um mol tem aproximadamente 6,022 × 1023 unidades. Este é um número extremamente grande, pois se trata de uma medida da ordem de sextilhões. Como exemplo, 1 mol de
moléculas de um gás possui aproximadamente 6,022 × 1023 moléculas deste gás, ou seja, seiscentos e dois sextilhões de moléculas (602.200.000.000.000.000.000.000 moléculas). E não adianta pensar que estamos falando em um volume enorme, estamos falando apenas na quantidade de matéria de um sistema que contém tantas unidades elementares quanto são os átomos contidos em apenas 0,012 quilograma de carbono-12 (12 miligramas de carbono 12).
 
       O terceiro nível é o da biologia. A biologia está em um grau de complexidade muito acima do químico. Na biologia o número de reações químico-físicas é enorme, e nos impossibilita estudar a vida, apenas pelo seu lado físico químico. Entretanto a biologia não pode desconsiderar nenhum dos princípios da química e, por conseguinte da física.
 
       O quarto nível é o nível mental. A mente em sua quase abstrata realidade, deriva de um grau de complexidade muito acima do biológico. Enquanto cada neurônio, separadamente, respeita todos os princípios biológicos, a mente deriva da interação de cerca de cem bilhões destes neurônios, cada um destes com uma infinidade de dendritos, e o seu axônio. Alem dos neurônios, nosso cérebro, motor de nossa mente, possui uma infinidade de células gliais, cuja função é dar sustentação aos neurônios e auxiliar o seu funcionamento. Desta forma um cérebro padrão, permite um número de sinapses inimaginável. Em função desta complexidade,  tratar a mente como biologia pura, é impossível.
 
       Visando encerrar esta seqüência simplista, vem o quinto nível, o social. Este nível  envolve uma inter-relação de inúmeras mentes, desta forma assumindo um grau de complexidade ainda maior, e impossibilitando analisarmos o social, apenas como mental, posto que deriva da relação de inúmeras mentes.
 
       O importante nesta escalada de complexidade: Físico, físico-químico, químico, bioquímico, biológico, neural, mental, e social, é que eles são inter-dependentes. Um nível superior na hierarquia de complexidade, deve respeitar os princípios de todos os demais níveis inferiores na cadeia.
 
       Por causa desta relação de respeito necessário às regras dos níveis inferiores, existem estudiosos, chamados reducionistas, que defendem a possibilidade de reduzirmos tudo aos seus níveis elementares. Em teoria pode até ser possível, mas se torna impraticável.
 
       Imaginemos um estado revolucionário em andamento, desejamos estudar aquele movimento social em detalhes, e pelos reducionistas, poderíamos fazê-lo, estudando a interação coletiva de cada átomo, de cada elétron, e assim por diante, de todas as pessoas envolvidas. Estaríamos falando de uma ordem de grandeza de elementos, impossível para que eu possa sequer expressa-lo.
 
        Simplesmente por tudo isto, eu amo a vida, amo o mental e amo o social.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 25/06/2010
Código do texto: T2340587
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