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QUE SAUDADE, QUE NADA!

 

 

Volto a fita de minha vida, gravada em puído VHS e vejo-me assim: quinze anos de sonhos explodindo, de esperas e esperanças. Aqui estou, sentada à luz de lamparina, mais uma vez escrevendo minhas cartas à mão para quantos e distantes lugares deste mundo que me parecia tão inatingível, lá naquele pequeno e escondido vilarejo das Minas Gerais, mais precisamente no Triângulo Mineiro – que também já sonhou em separar-se do restante do estado.

 

Cartas para o México, Estados Unidos, São Paulo, Rio de Janeiro e até (pasmem!) Finlândia! Onde fui descobrir isso, senão com a ajuda de uma cabeça pensante (ou não) alimentada pela curiosidade adolescente, sempre aguçada e mais viva do que parecia? O que tinha de informação vinha através do rádio (de pilha) e das revistas da época, onde eu passeava pelas colunas de “correspondência”. Escrevia para todas. Adorava escrever e manter este contato que, hoje, se faz através da internet.

 

Entre a poesia de Castro Alves (que eu devorava, assiduamente), e os romances de Machado de Assis, José de Alencar e Jorge Amado, estavam as viagens que eu, sonhadoramente, empreendia, ao redor do mundo, através de minhas cartas e meus poemas, às escondidas dos olhos sempre vigilantes de meu pai que não entenderia a ansiedade curiosa que mantinha a chama de minha esperança sempre acesa. Pena que esses registros de uma fase em que o conhecimento interior estava brotando, tenham se perdido, no redemoinho da vida.

 

Muito tempo depois, o hábito de anotar tudo que me ditava a inspiração, teve a sua continuidade, já em São Paulo, pelas teclas da máquina de escrever. Cartas e mais cartas datilografadas. Não existia monitor, nem mouse e nem como salvar uma cópia. Mas as guardava comigo, em uma pasta especial. Muitas ainda guardo daquela época. Quando as revejo, não dá para segurar aquela pontinha de melancolia, não de saudades.

 

Como ter saudades de uma época em que não havia telefones celulares, IPods, IPeds, Câmeras digitais, Micro ondas, Note books, Internet? Por sorte, vivi as duas épocas – o antes e o depois – para afirmar, com certeza, que esta é a melhor delas. E, enquanto a Internet não vinha, com seus recursos fabulosos e a facilidade de comunicação por E-mails, MSN, Facebook, Twitter, Word, Excell, Power Point, etc., lá ficava eu, anotando em cada pedacinho de papel que encontrava, os delírios poéticos que me assaltavam, sempre! Que saudade que nada!
Sou fissurada mesmo é na modernidade!



Este texto faz parte do Exercício Criativo
"Enquanto a Internet Não Vem"
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