PEDAÇOS DA MINHA INFÂNCIA - PARTE III
A Mamã Raquel tivera 3 bebés em 3 anos e achara-se a precisar de fazer uns consertos na boca.
No ano anterior (1954) tinha dado à Pátria mais um rapaz e fora no Dundo, na Companhia dos Diamantes (Diamang), que resolvera fazê-lo.
Nessa altura carregara com a primogénita (eu) para Saurimo onde o Papá Lacerda já tinha apalavrada uma boleia, óptima por sinal(!), para as levar. A criançada ficara em Cacolo com o progenitor e a avó Ilda.
Dessa ida ao Dundo ficou-lhe a ideia de um bom Hospital, etc. e tal.
E foi por isso que lá voltou no ano a seguir para arranjar a boca.
Levou os cachopos mas para grande surpresa da sua primogénita (eu), acabou por decidir levar a ama-seca e deixá-la, a ela (eu) em Cacolo com o Papá Lacerda e avó Ilda!
Corria o ano de 1955.
A revolta instalou-se naquela criança terna e doce (eu) pois já tinha esfregado as mãos de contente por voltar a fazer a mesma viagem!
A guerra foi declarada unilateralmente.
Começou por pedidos de:
"Papá, gostaria de estar também no Dundo. Posso ir?"
Resposta? Moita!
No 1º dia só por 2 vezes.
Depois foram crescendo em número e tom:
"Papá! Não consigo beber o leite; sabe-me mal! Posso ir ter com a mamã ao Dundo?"
Resposta? Moita!
"Avó! Esta sopa tem gordura, faz-me agoniar! Posso ir ter com a mamã ao Dundo?"
Moita!
"Papá! Não posso ficar esta noite no meu quarto; tenho medo! Posso ir ter com a mamã ao Dundo?"
Moita!
"Avó! Já não gosto daquele boneco que me deu nos anos; mete-me nojo! Posso ir ter com a mamã ao Dundo?"
Moita Carrasco!
Nos intervalos destes monólogos interessantíssimos havia choro em altos brados de tal forma que o Papá Lacerda, talvez aconselhado pela santa sogra, resolveu pegar na querida filha (eu) e levá-la a Saurimo para a recambiar para O DUNDO! Não sem antes lhe ter dito que iria de boleia nas camionetas de carga... [e ela (eu) tão preocupada!]
Chegados a Saurimo soube-se que o próximo comboio das ditas estava atrasado e que levaria dias para que tal acontecesse. O Papá Lacerda aproveitara para levar coisas do seu trabalho e teve de reunir várias vezes com o Sr Intendente. A chatinha da filha(eu) acompanhava-o para todo o lado e estava a divertir-se à brava. Era mimada e apaparicada em tudo quanto era sítio por toda a gente e estava já com medo que o tal comboio se formasse e se lhe acabasse a boa vida! Foram ao cinema, as refeições eram no Hotel, as tardes nos baloiços dos filhos dos funcionários da Diamang... Um nunca mais acabar de mordomias! Até houve alguém que lhe ofereceu um lindo pato de celulóide que estava à venda numa prateleira do Hotel!
E porque a visse mais animada (ou porque nunca tivera intensão de a mandar à mãe) acabou por anunciar à tirana (eu) que regressariam a Cacolo dia tal.
E como não podia deixar de ser, a meio da viagem, a carrinha parou... Cumpriram-se todos os rituais conhecidos e por inventar mas a carrinha não andou...
-"Oh Xico! Vai à sanzala do Soba tal tal e diz-lhe que... e que traga também uns frangos que fazemos aqui o jantar para todos, sim?"
Umas horas depois aparecem o Soba, as mulheres, as crianças, os sogros, os cunhados, primos, amigos e vizinhos. E tambores.
Alguém tratou dos frangos. Fez-se uma fogueira no meio da estrada. Assaram-se os frangos e batata doce e mandioca e ginguba.
Depois dos últimos ossos terem sido roídos até ao tutano pegaram nos tambores e... Foi a batucada mais linda, divertida e animada que a "infeliz regeitada" (eu) teve a dita de assistir e participar na sua vida! Já o sol raiava e ainda todos se rebolavam na estrada...
Quando o cansaço atacou em força atiraram-se para o chão para dormir um pouco.
Já de manhã passou uma camioneta (onde é que já está isto escrito também? ) que os levou de volta a Saurimo onde o papá Lacerda providenciou socorro.
E voltou tudo ao que fora dantes: Hotel, baloiços, cinema... Oh! que pena!!!"
Um beijinho,
A Mamã Raquel tivera 3 bebés em 3 anos e achara-se a precisar de fazer uns consertos na boca.
No ano anterior (1954) tinha dado à Pátria mais um rapaz e fora no Dundo, na Companhia dos Diamantes (Diamang), que resolvera fazê-lo.
Nessa altura carregara com a primogénita (eu) para Saurimo onde o Papá Lacerda já tinha apalavrada uma boleia, óptima por sinal(!), para as levar. A criançada ficara em Cacolo com o progenitor e a avó Ilda.
Dessa ida ao Dundo ficou-lhe a ideia de um bom Hospital, etc. e tal.
E foi por isso que lá voltou no ano a seguir para arranjar a boca.
Levou os cachopos mas para grande surpresa da sua primogénita (eu), acabou por decidir levar a ama-seca e deixá-la, a ela (eu) em Cacolo com o Papá Lacerda e avó Ilda!
Corria o ano de 1955.
A revolta instalou-se naquela criança terna e doce (eu) pois já tinha esfregado as mãos de contente por voltar a fazer a mesma viagem!
A guerra foi declarada unilateralmente.
Começou por pedidos de:
"Papá, gostaria de estar também no Dundo. Posso ir?"
Resposta? Moita!
No 1º dia só por 2 vezes.
Depois foram crescendo em número e tom:
"Papá! Não consigo beber o leite; sabe-me mal! Posso ir ter com a mamã ao Dundo?"
Resposta? Moita!
"Avó! Esta sopa tem gordura, faz-me agoniar! Posso ir ter com a mamã ao Dundo?"
Moita!
"Papá! Não posso ficar esta noite no meu quarto; tenho medo! Posso ir ter com a mamã ao Dundo?"
Moita!
"Avó! Já não gosto daquele boneco que me deu nos anos; mete-me nojo! Posso ir ter com a mamã ao Dundo?"
Moita Carrasco!
Nos intervalos destes monólogos interessantíssimos havia choro em altos brados de tal forma que o Papá Lacerda, talvez aconselhado pela santa sogra, resolveu pegar na querida filha (eu) e levá-la a Saurimo para a recambiar para O DUNDO! Não sem antes lhe ter dito que iria de boleia nas camionetas de carga... [e ela (eu) tão preocupada!]
Chegados a Saurimo soube-se que o próximo comboio das ditas estava atrasado e que levaria dias para que tal acontecesse. O Papá Lacerda aproveitara para levar coisas do seu trabalho e teve de reunir várias vezes com o Sr Intendente. A chatinha da filha(eu) acompanhava-o para todo o lado e estava a divertir-se à brava. Era mimada e apaparicada em tudo quanto era sítio por toda a gente e estava já com medo que o tal comboio se formasse e se lhe acabasse a boa vida! Foram ao cinema, as refeições eram no Hotel, as tardes nos baloiços dos filhos dos funcionários da Diamang... Um nunca mais acabar de mordomias! Até houve alguém que lhe ofereceu um lindo pato de celulóide que estava à venda numa prateleira do Hotel!
E porque a visse mais animada (ou porque nunca tivera intensão de a mandar à mãe) acabou por anunciar à tirana (eu) que regressariam a Cacolo dia tal.
E como não podia deixar de ser, a meio da viagem, a carrinha parou... Cumpriram-se todos os rituais conhecidos e por inventar mas a carrinha não andou...
-"Oh Xico! Vai à sanzala do Soba tal tal e diz-lhe que... e que traga também uns frangos que fazemos aqui o jantar para todos, sim?"
Umas horas depois aparecem o Soba, as mulheres, as crianças, os sogros, os cunhados, primos, amigos e vizinhos. E tambores.
Alguém tratou dos frangos. Fez-se uma fogueira no meio da estrada. Assaram-se os frangos e batata doce e mandioca e ginguba.
Depois dos últimos ossos terem sido roídos até ao tutano pegaram nos tambores e... Foi a batucada mais linda, divertida e animada que a "infeliz regeitada" (eu) teve a dita de assistir e participar na sua vida! Já o sol raiava e ainda todos se rebolavam na estrada...
Quando o cansaço atacou em força atiraram-se para o chão para dormir um pouco.
Já de manhã passou uma camioneta (onde é que já está isto escrito também? ) que os levou de volta a Saurimo onde o papá Lacerda providenciou socorro.
E voltou tudo ao que fora dantes: Hotel, baloiços, cinema... Oh! que pena!!!"
Um beijinho,