A Ilusão do "Voto Útil"

A Ilusão do Voto Útil

Jorge Linhaça

Época de eleição é sempre igual, pesquisas encomendadas dão longa margem de vantagem para dois dos candidatos a cargos majoritários, funcionando como instrumento de manipulação da opinião pública.

Como vivemos ainda em uma democracia pré-adolescente no que diz respeito ao exercício de nossa liberdade de voto e direitos enquanto eleitores, cria-se a expectativa de que é necessário votar, não necessariamente no que consideramos melhor, mas sim, contra o candidato ou partido do qual não gostamos.

Criou-se a falácia do " voto útil" que, de útil não tem nada, a não ser para os que se aproveitam do mesmo para atingir seus objetivos.

Claro que cada pessoa tem o direito de votar com sua própria consciência, o que seria bastante interessante se ocorresse de fato, no entanto o hábito de votar "contra" e não a favor do candidato que pode ter o melhor programa, ou ao menos representar uma opção para a mesmice do bipartidarismo maquiado que se perpetua nas várias instâncias de nossa nação, acaba por simplesmente transformar as eleições em algo semelhante a um jogo de futebol decidido entre dois grandes times, desprezando-se os chamados pequenos.

Como esta crônica irá chegar a leitores de várias partes de nosso país, vou exemplificar com o pleito para a presidência da república.

De um lado temos o PT e a candidata Dilma Russef, do outro o PSDB com o candidato José Serra...correndo por fora ( e a figura aqui realmente ganha força quando os eleitores a consideram fora do páreo) a candidata do PV Marina Silva.

Não é raro encontrarmos pessoas que gostariam de votar em Marina, quer seja por simpatia, por ideologia ou simplesmente porque não gostam nem de Serra nem de Dilma, no entanto, não votarão nela porque acreditam que ela não tem chances de conseguir uma votação expressiva que a leve ao menos ao segundo turno.

Oras, claro que, se todos pensarem assim, continuaremos escravos dos dois grandes partidos, negando-nos o direito de escolher o que realmente consideramos melhor e optando pelo que cremos ser o menos ruim para a nação.

Quando o eleitor brasileiro tomar consciência real da responsabilidade eleitoral que possui, o quadro pode tomar rumos bem diversos do que se vê hoje em dia.

Claro que a manipulação da mídia, inclusive do tal " horário eleitoral gratuito" e das pesquisas de opinião , que reservam espaços sempre maiores aos candidatos dos partidos grandes, reforçam essa impressão de que não temos outras opções reais.

Ficamos, portanto, sujeitos à eterna impressão de que: "Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come"

e acabamos por optar pelo que consideramos ser menos traumático, ser devorado por leões ou por tigres.

Anos atrás ocorreu um fenômeno eleitoral interessante, protagonizado pelo candidato do extinto PRONA, Dr Enéas Carneiro que, por pouco não chegou ao segundo turno das eleições presidenciais.E isso ocorreu com o Dr Enéas tendo apenas 30 segundos de Horário Eleitoral na TV.

O susto dos grandes partidos foi tão grande que correram para criar uma lei que obrigasse as pequenas legendas a unirem-se a outros partidos para que os candidatos mantivessem o seu direito de disputarem novas eleições.

Claro que os partidos que dispõe de mais tempo na TV e de recursos financeiros para fazer a sua campanha com superproduções, quer no horário eleitoral gratuíto como em outras inserções pagas no horário nobre, levam grande vantagem ao expor e fixar a imagem de seus candidatos, nem sempre mostrando senão pessoas pagas para elogiá-los diante das cameras. Na propaganda eleitoral não existem problemas de saúde, educação, segurança , desemprego e etc, tudo é um país ( estado) das maravilhas.

Chega a ser cômico vermos hospitais sem filas, semi vázios, como se isso fosse a realidade enfrentada pela população quando necessita de assistência médica. E isso é só um exemplo.

Nunca é cedo demais ou demasiado tarde para apelar ao leitor/eleitor que faça um exame mais apurado de sua consciência e não se deixe levar pela ilusão do "voto útil" contra este ou aquele candidato.

Ao menos no primeiro turno, usemos de nossa liberdade para votar e quem, segundo nossa visão, nos pareça mais qualificado e capaz ao invés de nos limitarmos a votar em fulano porque ele tem maiores chances de derrotar aquele/a candidato/a que não gostaríamos de ver no poder.

Criemos, ao menos, um verdadeiro quadro político em nosso município, estado e país, ao invés de nos sujeitarmos a engolir os sapos que tentam nos enfiar goela abaixo.

Meu voto?

Até o presente momento é para Marina Silva, mas quero estudar o programa de governo dela com mais atenção.

Além disso, ainda preciso descobrir se existem outros candidatos ignorados pela grande mídia.

Arandu, 24 de junho de 2010