O pescador poderoso
E São Pedro?
Um pouquinho sobre ele e sua festa que, deixe-me dizer, deveria ser em outubro e não em junho; desde que os festejos em sua homenagem fossem para lembrar o seu martírio.
Segundo as pesquisas, sua crucificação se dera no dia 13 de outubro de 64, depois de Cristo. E os santos geralmente são homenageados na data de sua morte.
Mas não há como negar: o povão dá pouca importância à noite do discreto Simão, que não era um simples e humilde pescador. Ele era um empresário da pesca.
Na noite são-petrina, acende-se uma fogueirinha aqui, outra fogueirinha ali, e sem muito entusiasmo.
As sanfonas quase silenciam; e o foguetório diminui consideravelmente.
O grande barato, mesmo, é a noite são-joanina.
Por falar em são-joão, este ano fiquei por aqui: não arredei o pé de Salvador.
Não procurei o interior para festejar o Precursor, embora sabendo que, na "capitá", a noite de São João não é lá essa coisa toda.
No céu da Pituba, por exemplo, não vi fogos de artifícios; um só, sequer.
Na capital, a gente tem que se contentar com o milho, que um dia foi verde, comprado nos supermercados. A menos que se queira enfrentar as tais feiras-livres, onde uma espiga custa os olhos da cara.
E, por último, sujeitar-se a comer a canjica da delicatesse mais próxima que, nem de longe se iguala à canjiquinha verdadeira; aquela com gosto e cheiro de sertão.
Em Salvador, ainda consigo degustar um delicioso licor.
Dou preferência ao de jenipapo feito pelas freirinhas do Desterro, um mosteiro belíssimo. Primeiro convento feminino do Brasil, por volta de 1677, ele acolheu as primeiras irmãs clarissas deste país, vindas de Évora.
Mas, como gostava de dizer o Nelson Rodrigues, a "verdade inapelável" é que, dos três santos de junho, Simão Pedro é o menos festejado, na roça e na cidade.
Esquecemos que Pedro é um santo poderoso. Sem sua permissão, ninguém entra no céu. As chaves das estreitas portas do paraíso celestial estão com ele.
Chaves que lhe foram confiadas pelo Cristo, elegendo-o seu representante na Terra, é o que diz a Bíblia.
Acho que está no Evangelho de Mateus a constatação desta verdade.
Disse Jesus: "Eu te darei as chaves do Reino dos Céus (Claves regni caelorum): tudo o que ligares na Terra será ligado nos céus, e tudo que desligares na Terra, será desligado nos céus."
Irrefutável, pois, o prestígio deste apóstolo; e enormes os poderes que lhe foram dados pelo Rabino.
As chaves - uma de ouro e a outra de prata - aparecem no Brasão dos Papas, segundo a tradição, os sucessores do "Chaveiro do Céu". São chaves poderosas - potestas clavium.
No meu nordeste, o povo atribui a São Pedro o poder de fazer chover.
Nos bons invernos do Iguatu, no alto sertão do Ceará, minha mãe, quando o toró caia forte sobre as telhas vãs de nossa casa, ela dizia: "São Pedro abriu as torneiras do céu."
Se trovejava, era São Pedro "roncando ou arrumando os móveis da casa de Deus".
Posso, entretanto, assegurar, que minha sábia genitora (Arre!) nunca me ensinou a justificar meus erros recorrendo ao deslize de Pedro quando, na hora da Paixão, negou, por três vezes, conhecer Jesus de Nazaré, seu amigo íntimo.
Sim, porque, como lembra o saudoso folclorista potyguá Luís da Câmara Cascudo, a frase - "se até o apóstolo Pedro errou, por que não eu?" - é muito usada para justificar erros e pecados inconfessáveis...
Não sei o que sobre São Pedro estão pensando os alagoanos, vítimas, neste instante, de violentos aguaceiros.
Mas, até posso garantir que a catástrofe pluviométrica que atinge aquele valoroso povo não é culpa de Pedro.
É o caso de se perguntar: o que fizeram os homens com (ou pelo) os pequenos rios, os açudes, e com a mata das alagoas?
E o que estão fazendo, agora, com o São Francisco, que banha boa parte da terra do nosso Graciliano Ramos? Nem Quebrangulo a enxurrada poupou!
E São Pedro?
Um pouquinho sobre ele e sua festa que, deixe-me dizer, deveria ser em outubro e não em junho; desde que os festejos em sua homenagem fossem para lembrar o seu martírio.
Segundo as pesquisas, sua crucificação se dera no dia 13 de outubro de 64, depois de Cristo. E os santos geralmente são homenageados na data de sua morte.
Mas não há como negar: o povão dá pouca importância à noite do discreto Simão, que não era um simples e humilde pescador. Ele era um empresário da pesca.
Na noite são-petrina, acende-se uma fogueirinha aqui, outra fogueirinha ali, e sem muito entusiasmo.
As sanfonas quase silenciam; e o foguetório diminui consideravelmente.
O grande barato, mesmo, é a noite são-joanina.
Por falar em são-joão, este ano fiquei por aqui: não arredei o pé de Salvador.
Não procurei o interior para festejar o Precursor, embora sabendo que, na "capitá", a noite de São João não é lá essa coisa toda.
No céu da Pituba, por exemplo, não vi fogos de artifícios; um só, sequer.
Na capital, a gente tem que se contentar com o milho, que um dia foi verde, comprado nos supermercados. A menos que se queira enfrentar as tais feiras-livres, onde uma espiga custa os olhos da cara.
E, por último, sujeitar-se a comer a canjica da delicatesse mais próxima que, nem de longe se iguala à canjiquinha verdadeira; aquela com gosto e cheiro de sertão.
Em Salvador, ainda consigo degustar um delicioso licor.
Dou preferência ao de jenipapo feito pelas freirinhas do Desterro, um mosteiro belíssimo. Primeiro convento feminino do Brasil, por volta de 1677, ele acolheu as primeiras irmãs clarissas deste país, vindas de Évora.
Mas, como gostava de dizer o Nelson Rodrigues, a "verdade inapelável" é que, dos três santos de junho, Simão Pedro é o menos festejado, na roça e na cidade.
Esquecemos que Pedro é um santo poderoso. Sem sua permissão, ninguém entra no céu. As chaves das estreitas portas do paraíso celestial estão com ele.
Chaves que lhe foram confiadas pelo Cristo, elegendo-o seu representante na Terra, é o que diz a Bíblia.
Acho que está no Evangelho de Mateus a constatação desta verdade.
Disse Jesus: "Eu te darei as chaves do Reino dos Céus (Claves regni caelorum): tudo o que ligares na Terra será ligado nos céus, e tudo que desligares na Terra, será desligado nos céus."
Irrefutável, pois, o prestígio deste apóstolo; e enormes os poderes que lhe foram dados pelo Rabino.
As chaves - uma de ouro e a outra de prata - aparecem no Brasão dos Papas, segundo a tradição, os sucessores do "Chaveiro do Céu". São chaves poderosas - potestas clavium.
No meu nordeste, o povo atribui a São Pedro o poder de fazer chover.
Nos bons invernos do Iguatu, no alto sertão do Ceará, minha mãe, quando o toró caia forte sobre as telhas vãs de nossa casa, ela dizia: "São Pedro abriu as torneiras do céu."
Se trovejava, era São Pedro "roncando ou arrumando os móveis da casa de Deus".
Posso, entretanto, assegurar, que minha sábia genitora (Arre!) nunca me ensinou a justificar meus erros recorrendo ao deslize de Pedro quando, na hora da Paixão, negou, por três vezes, conhecer Jesus de Nazaré, seu amigo íntimo.
Sim, porque, como lembra o saudoso folclorista potyguá Luís da Câmara Cascudo, a frase - "se até o apóstolo Pedro errou, por que não eu?" - é muito usada para justificar erros e pecados inconfessáveis...
Não sei o que sobre São Pedro estão pensando os alagoanos, vítimas, neste instante, de violentos aguaceiros.
Mas, até posso garantir que a catástrofe pluviométrica que atinge aquele valoroso povo não é culpa de Pedro.
É o caso de se perguntar: o que fizeram os homens com (ou pelo) os pequenos rios, os açudes, e com a mata das alagoas?
E o que estão fazendo, agora, com o São Francisco, que banha boa parte da terra do nosso Graciliano Ramos? Nem Quebrangulo a enxurrada poupou!