O TEMPO PERDIDO SEMPRE VOLTA.
O dia de ontem ficou marcado por um evento até então novo para mim, ou talvez já houvesse acontecido antes, mas não foi dado o devido crédito.
A verdade é que eu pude perceber que o tempo perdido sempre retorna de alguma maneira ao nosso tempo atual. Apesar de muitas vezes estar em um plano inconsciente, sua presença, em pequenas facetas da vida, é evidente.
Vinha eu caminhando por uma calçada em direção de casa, com a mente vagando sem pensar em nada, vinha à mercê das pernas. Quando de repente sem querer, esbarro com o ombro em uma moça que vinha também andando de encontro a mim, e seus livros caem. Nesse instante em que me viro para ajudá-la e fito os encadernados no chão, ela abaixada, seus cabelos negros, pele morena clara, olhar meigo em uns óculos frágeis, sou tomado de súbito por uma recordação de a mais de dez anos atrás, lembrança tão remota que de nenhuma outra maneira eu poderia recordar. Onde se repetia a mesma cena de quando conheci Lília, meu primeiro amor, seria ela? A mesma pegou os livros, levantou-se, deu um breve sorriso, pedimos desculpas, então foi embora, não me reconheceu, não era ela.
E à medida que eu caminhava, as lembranças da adolescência foram surgindo, do grande amor que eu sentia por Lilia e como foi bonito aquele amor. No caminho da escola era comum pararmos na panificadora para tomar um suco, conversávamos sobre sua vida, de como ela ficava contente com as estórias que a avó lhe contava. Diferente dos demais jovens da época, ela não queria parecer com ninguém da TV, ela sorria porque estava feliz, se emburrava, porque estava com raiva, chorava porque estava triste, não fazia nada por modismo, se usava uma calça é porque queria usar, uma camisa, porque tava a fim de usá-la e etc. E isso para mim era incrível, pois não encontrava essa pureza em mais ninguém.
À tarde, íamos para a biblioteca do centro da cidade, sentíamos prazer em fazer boas leituras e conversar depois sobre o que líamos, eram tardes memoráveis.
Ah, o primeiro beijo, em um final de tarde como nos livros. Embaixo de uma arvore ao por do sol, suas mãos tremiam e eu as segurava com carinho, ela com o olhar para baixo, eu sabia que ela queria assim como eu, foi um beijo apaixonante o tempo parecia parado o mundo parecia nossa roda gigante, estávamos completamente enamorados.
Daí o tempo foi passando, e a vida não é sempre como nos livros. Lilia precisou viajar, trocamos duas ou três correspondências, porém, as ansiedades da vida foram aumentando à medida que o tempo passava, foi se perdendo o contato até tudo virá lembrança e se perder na memória.
E achando que tudo estava perdido, chega um dia de ontem onde caminhando despreocupadamente pelo passeio público, trombo por acaso com alguém e esse fato me trás essas lembranças totalmente esquecidas.
Entro em casa pensativo, faço as coisa que devem ser feitas, vou deitar lembrando tudo que aconteceu, de como um tempo que estava perdido retornou de forma tão repentina, e digo comigo mesmo: _ A vida é engraçada, né?