PICHADORES

Eu tenho pena dessa juventude incapaz de reconhecer e respeitar algo de valor histórico, religioso ou sentimental. São iconoclastas fruto do desmantelamento das famílias, célula mater da sociedade.

Por seu valor intrínseco é na convivência familiar, que se aprendem os valores que irão nortear o adulto, mas isso, hoje em dia, em nossa sociedade, é objeto raro.

O comportamento digno deu lugar ao vandalismo. O desrespeito, a agressão a quem quer que seja são características da juventude atual que irá sofrer na própria pele, males bem piores que os atuais, provocados pelas gerações que eles gerarão.

É comum se verem monumentos, templos, prédios públicos e particulares garatujados com “letras” que somente os integrantes da corja de pichadores conseguem entender.

Numa análise mais profunda, podemos identificar em tal gesto o comportamento de outros animais territorialistas como canídeos, felinos e primatas que espalham pelo território onde vivem, o feromônio produzido pelas glândulas de cheiro para que seus semelhantes saibam que ali tem um macho adulto, pronto para o acasalamento, que é “dono” de toda caça disponível e principalmente, quem se atrever a entrar, vai se dar mal.

Assim são os pichadores.

A rivalidade entre os grupos e o desafio de quem colocará sua marca em locais inusitados e mais altos (tal como o cocô do cachorro em pedras ou madeira empilhadas) confere ao infrator status e respeitabilidade entre seus pares. Ser o primeiro a colocar sua “marca” é privilégio para poucos.

Os direitos (sem deveres) assegurados pelo ECA (estatuto da criança e do adolescente) e defendidos com unhas e dentes pelos alimentadores de marginais dos Direitos Humanos, OAB, CNBB e outros grupos que vivem à parte da sociedade como se vivessem em bolhas, numa visão míope de que limites, recompensas e castigos são os verdadeiros formadores de cidadãos e reais distribuidores de cidadania, dão cobertura para esses e outros crimes que sempre ficam impunes.

De pouco adianta instrução formal se o indivíduo foi criado como um sociopata incapaz de reconhecer para outros os mesmos direitos que reclama para si.

Como não poderia deixar de ser, devido a nossa posição geográfica, Recife é uma cidade arborizada que apesar das podações desastrosas perpetradas pelos funcionários despreparados da companhia de eletricidade, da prefeitura e dos bombeiros, nós cidadãos, temos a garantia de uma cobertura verde de valor inestimável nesses tempos de aquecimento global. Há um programa novo, alardeado pelo prefeito, que teremos o plantio de mais um milhão de arvores por toda cidade com espécies da Mata Atlântica. Lamentavelmente, essas arvores também são alvo dos pichadores, não só das tribos como também dos alienados evangélicos.

Se as garatujens das tribos são ilegíveis, os versículos ao contrário, estão lá bem nítidos onde não se poupam tinta nem espaço.

Esses dois grupos, pichadores e evangélicos, precisam ser contidos e treinados para a convivência sadia em sociedade.

Os pichadores estão à deriva, sem carta, sem bússola, sem norte. Os evangélicos tentam reviver no século atual, os valores vigentes trinta séculos antes do presente.

A estupidez da pichação, esse crime, foi cometido com o baobá neném da praça do bairro da Várzea, que agora além de abrigar as almas dos afro-descendentes expõe a bestialidade de que foi vítima.