Minha primeira copa do mundo
Nasci em ano de copa do mundo, era 1974, mas como cheguei em setembro, não deu tempo de ver o bicampeonato da Alemanha. Já em 1978 foi a fraca memória que me traiu, então com quatro anos de idade, não restou lembrança alguma do primeiro título argentino.
A copa 1982, essa sim, foi a minha primeira copa do mundo. Lembro-me perfeitamente da euforia brasileira, causada claro, por uma das melhores seleções que o Brasil já tivera. Zico, Sócrates, Falcão, Júnior...era um grande time , talvez tão bom quanto o célebre time de 1970.
E a seleção canarinho começou arrasando as adversárias, vencendo e convencendo, a todos nós que desta vez...não tinha pra mais ninguém. Após cada vitória a pracinha em frente da minha casa era tomada por uma multidão, a euforia contaminava a todos, jogo após jogo, a certeza só crescia, Zico era então o nosso rei!
O Brasil já tinha eliminado a grande rival Argentina e agora pegaria a seleção Italiana nas quartas de final (que andava meio desacreditada, pela fraca campanha na primeira fase).
Um dia antes do jogo contra a seleção italiana minha tia Fisoca chegou de viajem com um presente, para mim e meu irmão, inesquecível: o uniforme completo da seleção, camisa, calção, chuteira e meião...
O grande dia chegou, já saímos, eu e meu irmão, da cama vestidos e orgulhosos com o uniforme da seleção. Antes mesmo do jogo começar já havia muita comemoração, a praça e a rua toda enfeitadas com bandeirolas verdes e amarelas, os carros passavam buzinando..e nós, as crianças ,que assistíamos nossa primeira copa do mundo, embarcávamos de cabeça no otimismo dos adultos, achávamos que eles sabiam o que estavam fazendo ... eles não sabiam.
Assistimos então, atônitos, o atacante italiano Paolo Rossi marcar 3 gols na partida e despachar nossa seleção. O choro compulsivo de Zico e cia marcaria por anos a fio minha então jovem memória futebolística. Acho que nunca vi desclassificação tão triste quanto aquela, nem mesmo perder para Argentina em 1990 doeu tanto.
Ao fim do jogo, eu e meu irmão, ainda vestidos com o uniforme da seleção, fomos até a varanda, mas não havia festa nem carnaval, era tudo silencio e deserto, as bandeirolas derretiam embaixo na fina chuva que caía.
Essa foi a minha primeira copa do mundo, e, com certeza, minha primeira grande decepção na vida.