Intercâmbio Cultural


No início da década de oitenta, um amigo meu morou um tempo na Inglaterra em intercâmbio cultural.
Taí, uma coisa interessante: miscigenar culturas de forma voluntária e não forçosa como nossos índios lá pelos idos do século XV... A cultura deles foi tão bem miscigenada que praticamente desapareceu e o que sobrou foram alguns bandos de aculturados...
Mas, deixemos para lá os Gersons de tanga e voltemos ao meu amigo.
Como o nome diz, um intercâmbio cultural visa intercambiar culturas. Assim, com o tempo ele adquiriu alguns hábitos da família que o acolheu e também, "contaminou-a" com algumas das características tupiniquins. Uma delas, essa nossa forma desinibida de ser, abraços, beijinhos e compartilhar espaços que os súditos da rainha entendem como íntimos demais para pessoas que não estejam unidas por sangue ou matrimônio. Deste modo, ele freqüentava com naturalidade e sem maldade, o quarto da sua "irmã", um inglesinha um ano mais nova que ele.
Numa manhã, em companhia de alguns colegas da escola, caminhavam apressados, fugindo do vento forte e gelado. Ao entrarem no prédio onde teriam aulas, ela riu dele:
- Seu cabelo! Ficou engraçado.
O vento havia criado alguns redemoinhos em sua franja.
Ele apalpou o bolso da calça à procura do pente. Não encontrando, exclamou:
- Ih! Acho que deixei meu pente em seu quarto hoje de manhã.
Silêncio total! Ela o fuzilou com o olhar, os amigos entreolharam-se maliciosos e ele, totalmente constrangido, percebeu a gafe internacional que havia cometido: era o mesmo que dizer que haviam dormido juntos.
Foi quando ela abrasileirou de vez. Abriu um enorme sorriso, tascou-lhe um beijinho na bochecha:
- Tem problema, não! Tá fofo assim... maninho!
Depois, enveredou por outro assunto, como se nada houvera.
Felizmente, nada mais houve. Talvez os colegas gostassem demais dela para espalhar boatos ao seu respeito.
Mas o mais provável mesmo é que tenham entendido seu recado, pintadinho de verde e amarelo, com a cara alegre desse nosso Brasil.