A NEVE QUE VI
Em vinte de agosto de 1965, estava estudando em Cruz Alta (RS), e morando com a família de uns tios, quando mais ou menos às seis horas da manhã fomos acordados pelos gritos da Tia Tuca, a qual repetia uma única frase:
- Meu Deus, venham ver !!! Meu Deus, venham ver !!!
Como o tom, variava entre alegria e surpresa, levantamos, e correndo nos dirigimos à janela a qual ela se encontrava, nós em silêncio total e ela repetindo:
- Meu Deus, venham ver !!! Meu Deus, venham ver !!!
Foi então nos deparamos, mudos e boquiabertos, com toda a cidade coberta de neve. Flocos com uns vinte centímetros de comprimento, chamados capuchos, desciam bailando, cobrindo tudo de branco. Dos muros mais baixos, não tínhamos noção de onde estavam localizados, das árvores só podíamos ver o verde dos troncos, e dos telhados nenhuma telha. Nos campos e lavouras nada mais do que o branco.
A sua precipitação havia iniciado entorno das duas horas da madrugada, e em certos lugares chegou a acumular um metro e meio de altura. Por volta das onze horas da manhã, transformou-se em uma chuva fina, a qual foi aos poucos derretendo tudo. Na tarde do dia seguinte, nos lugares mais abrigados, ainda havia vestígios de sua passagem.
Tendo nascido e passado a infância no interior, já conhecia bem as geadas, que deixam tudo gelado, de um branco meio transparente, com um brilho magnífico ao surgir do sol. Mas nada comparado grandeza de uma nevasca.
Se hoje, ao visitar um país ou região onde a neve é comum, creio que não teria o mesmo encantamento com a paisagem: faltaria a surpresa.