Ela

Seguia meu caminho em mais uma tarde até que a vi. Seu comportamento apreensivo me chamou a atenção. Alta, pele morena, mais ou menos cinqüenta anos, cabelos curtos, tudo isso num corpo magro. Olhava para “o nada” e conversava. Falava, gesticulava e explicava alguma coisa para alguém. Havia graça nos movimentos e educação no linguajar. Em alguns momentos, os movimentos das mãos demonstravam carinho e apreço.

Fiquei ali parado algum tempo tentando entender a cena. Mas não havia nada a se entender, pelo menos para os considerados “perfeitos”, os “sãos” que já não conversam, já não tratam com carinho, já não “perdem” tempo com a poesia da vida. Não, sinceramente, não há o que entender de forma racional, já que não lembro a ultima vez que “concedi” o direito de ouvir alguém ou curtir a voz do vento. E ela, em seu momento de descontração, me ensinou uma das mais belas lições de existência.

Depois de um tempo, observando aquela cena mágica, segui meu caminho. Num determinado ponto, olhei mais uma vez com admiração para aquele momento de vida que não dependia de ter ou mesmo ver. Formulei a pergunta que gostaria que você leitor me respondesse: afinal quem é o louco?