BENHÊ
Nas ruas de Paris às vezes encontramos banquinhas de crepes. Da primeira vez que parei em uma delas, fiquei olhando para escolher e a vendedora então me perguntou se eu não preferia um ‘benhê’. Aceitei, só para ver o que era aquilo, nunca tinha ouvido falar. Ela pegou uma colherada de massa, jogou na panela de óleo quente e logo depois retirou um bolinho corado. Deu um talho nele e recheou com creme de chocolate. Depois passou o bolinho no açúcar e me entregou. Nada mais era do que um sonho! Sonho ‘de padaria’, que estava realmente um sonho.
Depois disso, toda vez que penso em bolinhos - de batata, caipira, de chuva – lembro daquele sonho. É que ‘benhê’ (baigné) significa que foi banhado. Neste caso, na gordura, naturalmente. E aqui em casa se tornou sinônimo de fritura. Falando benhê pra cá, benhê pra lá, começo a imaginar um diálogo entre aqueles que se tratam por Benzinho, Benzão...
- Benzinho!
- ...
- Benziiiinhooo!
- Hããã? Que foi, benheê?
- Vem cá!
- Agora, Benzão?
- É.
- Não posso!
- Que que você tá fazendo?...
- Tô aqui na cozinha... com o benhê!
- Com queeem?
- Ninguém, é o benhê...
- Queeem?
- O benhêêê, já disse!
Curioso o Benzão entra na cozinha. Diante do fogão Benzinho mexe na frigideira.
- Tô fazendo bolinhos, quer um?
- Hummm... ficou bom... um sonho...
- Não é sonho, não. É bolinho de chuva!