O Homem Mais Belo
A senhora Kendal mantinha as costas numa postura perfeita, sentada na poltrona de veludo preto onde repousava o balão da sua saia em crinolina estampada. Convocava num esforço titânico todos os seus dotes de representação teatral para impedir que as lágrimas lhe explodissem dos olhos enquanto contemplava o homem que diante de si declamava Shakespeare.
Podia observar em silêncio todas as deformações grotescas que conferiam à criatura o aspecto repugnante que afastava quase todos, excepto os que, imunes à estética, se aproveitavam para o explorar.
O Homem-elefante, como era conhecido pela civilizada população de Londres em plena era vitoriana, falava à senhora Kendal com uma ternura infinita. Descrevia as crueldades que contra si tinham sido perpetradas sem resquício de mágoa. O seu coração era ausente de ódio. Apenas conhecia a dignidade e o desejo de ser amado e reconhecido como o ser humano que era. Tinha uma fé inabalável na Humanidade.
A senhora Kendal, já vira de tudo, no ambiente faustoso da alta sociedade que frequentava os teatros de luxo da cidade. Conhecia a arrogância dos dandies e a hipocrisia escondida por baixo dos cetins, tafetás e brocados das grandes ladies.
Nunca tinha visto ninguém como Jonh Merrick, ex-aberração de circo enjaulada, que sabia de cor e lhe oferecia o “Romeu e Julieta”.
Mais forte do que tudo o que aprendera sob o brilho dos palcos iluminados foi a água que lhe rasou os olhos e não se conteve em chorar. Não de tristeza, pena ou compaixão. Mas porque diante de si estava o homem mais belo que alguma vez conhecera.
Nota: texto baseado no filme de David Linch, " O Homem-elefante" cujo argumento é a história verdadeira de Jonh Merrick, portador de uma doença congénita que lhe causou deformações em 90% do corpo.
A senhora Kendal mantinha as costas numa postura perfeita, sentada na poltrona de veludo preto onde repousava o balão da sua saia em crinolina estampada. Convocava num esforço titânico todos os seus dotes de representação teatral para impedir que as lágrimas lhe explodissem dos olhos enquanto contemplava o homem que diante de si declamava Shakespeare.
Podia observar em silêncio todas as deformações grotescas que conferiam à criatura o aspecto repugnante que afastava quase todos, excepto os que, imunes à estética, se aproveitavam para o explorar.
O Homem-elefante, como era conhecido pela civilizada população de Londres em plena era vitoriana, falava à senhora Kendal com uma ternura infinita. Descrevia as crueldades que contra si tinham sido perpetradas sem resquício de mágoa. O seu coração era ausente de ódio. Apenas conhecia a dignidade e o desejo de ser amado e reconhecido como o ser humano que era. Tinha uma fé inabalável na Humanidade.
A senhora Kendal, já vira de tudo, no ambiente faustoso da alta sociedade que frequentava os teatros de luxo da cidade. Conhecia a arrogância dos dandies e a hipocrisia escondida por baixo dos cetins, tafetás e brocados das grandes ladies.
Nunca tinha visto ninguém como Jonh Merrick, ex-aberração de circo enjaulada, que sabia de cor e lhe oferecia o “Romeu e Julieta”.
Mais forte do que tudo o que aprendera sob o brilho dos palcos iluminados foi a água que lhe rasou os olhos e não se conteve em chorar. Não de tristeza, pena ou compaixão. Mas porque diante de si estava o homem mais belo que alguma vez conhecera.
Nota: texto baseado no filme de David Linch, " O Homem-elefante" cujo argumento é a história verdadeira de Jonh Merrick, portador de uma doença congénita que lhe causou deformações em 90% do corpo.