Quem sou eu? O que que eu vim fazer?
 
 
Quem sou eu?


 
     Este texto refletia, na época, uma situação mental dual. Iniciando minha caminhada pela descoberta da ciência ainda possuía muitas dúvidas quanto ao que, ou a quem, eu realmente era.
 
     Quem sou eu? É uma pergunta ainda válida hoje, e o será por toda a eternidade, acredito eu. Cada um deve responde-la com sinceridade. Como a resposta pode ser introspectiva, não precisamos mentir.
 
     Mentir é uma faceta que nós humanos desenvolvemos tão bem e continuamente, como uma das armas de nosso arsenal de defesa e ataque, que muitas vezes mentimos para nós mesmos, com tamanha consistência, que acabamos acreditando, e não mais conseguindo identificar onde iniciou nossa mentira particular, e onde iniciaria a verdade relativa.
 
     A biologia e a psicologia evolutiva mostram isto muito bem. Não devemos ter vergonha ou raiva disto, isso faz parte de nossa natureza mais íntima, e é assim, independente e indiferente ao que gostaríamos de ser, ou ao que entendemos como um ser humano ético.
 
     A ética surge exatamente para frear nossos instintos animais que evoluíram com o único intuito de nos permitir a perpetuação de nossa especie, e a seleção natural dos mais bem adaptados.
 
     Como diria o grande Richard Dawkins, o gene parece ser egoísta, e faz parecer que ele tem vontade própria (uma grande falácia), buscando assim sua reprodução em maior número possível.
 
     O conteúdo genético que se replicar mais, terá assim maiores chances de se perpetuar.
 
     Sim, a perpetuação do homem, passa pela perpetuação do seu genoma, com suas contínuas modificações. O gene não tem consciência de nada disso. Seria ridículo e ilusório, acreditarmos que o genoma possui consciência do seu fim. Entretanto, aquele genoma que criou homens mais adaptados, naturalmente se replica mais e se perpetua, e permitiu assim que nossa raça pudesse ter sobrevivido, uma vez que como animais, éramos frágeis.
 
     A mentira foi uma das armas (não a única e nem talvez a melhor, mas uma das inúmeras armas que dispunhamos em nosso arsenal mental, psicológico e biológico), que permitiu que sobrevivêssemos.
 
     Enganar nossos predadores, enganar os animais homens durante a evolução, e ter como perceber suas intenções, ajudaram a algumas composições genéticas que se sobressaíssem. Somos assim hábeis mentirosos e possuímos várias contra defesas na tentativa de descobrir quando nosso semelhante esta mentindo.


     Pelo amor de deus (isso é uma exposição, e não uma definição de crença), isto não significa que esteja valorizando como positivo ou mesmo engrandecendo a arte da mentira.
 
     É ai que entra a nossa ética, a nossa moral. Ser ético é saber o que fazer em prol da convivência digna do homem. Mentir é errado, mas como tudo na vida, isto também é relativo. Mas saibamos que acima de tudo, deve sempre estar a dignidade do homem social.
 
     Somos seres sociais, e vivemos para ajudar, para dignificar, e para engrandecer a vida dos nossos irmãos, e não somente a dos nossos familiares mais próximos, ou mesmo a de nossos filhos. Vivemos para a glória de toda a vida, seja na terra (ainda é a única que conhecemos), ou seja em qualquer recanto deste nosso vasto, e quase infinito, universo.
 
     Assim, esta dúvida foi se reduzindo. Para isso me ajudou muito, o materialismo, o humanismo secular, a ciência e em especial a biologia evolutiva e a psicologia evolutiva.
 
     Este texto foi escrito em 1978, como o de número 31. Ele mostra claramente como nossos sentimentos estão continuamente em evolução, que era inclusive o título do livro que desejava publicar na época.
 
Quem sou eu?
O que é que eu vim fazer?
Serei algo real?
Como é que eu vou saber?

Serei um pensamento
De algum pobre coitado
Ou serei o sofrimento
De um ser encabulado?

Serei um ser real
Algo digno de viver
Ou serei um verme social
Que merece desaparecer?

Posso eu um dia me transformar
Em um fruto da imaginação
Serei eu capaz de arcar
Com esta indignação?

O mundo será uma miragem
Eu, um ser que jamais existiu
Quem poderá me explicar
Uma coisa que ninguém ainda concluiu?

Seremos nós o sonho
De um ser a sonhar
Será que eu viverei
Quando ele acordar?

Até a antimatéria
Já é uma realidade
E a existência de um mundo paralelo
Será que é verdade?

A nossa existência
Parece sem definição
Mas vamos buscar
Encontrar uma solução

De onde eu vim?
Para onde eu irei?
Isto é uma incógnita
É só isso que eu sei

Viemos do nada
Para o nada nos dirigiremos
Esse nada pode ser o tudo
Tudo o que nós queremos

Eu vou perguntar
O que o nada quer dizer
Será ele um todo
Ou o tudo ele pode ser?

Eu vou querer achar
Alguém que saiba explicar
O que o nada quer dizer
Para então eu entender
E um dia distinguir
A diferença sem mentir
Entre o nada e o tudo
Sem contudo
Entrar numa de horror
Que possa me descompor
Da minha realidade
Que depende da minha capacidade
De entender pensar e agir
Sem das minhas obrigações fugir...
... Nesta vida amargurada
Eu  vou   seguindo     a        minha
       es     tra        da ...
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 23/06/2010
Código do texto: T2335863
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