Doce letargia.
No lusco fusco do primeiro dia de inverno, o silêncio só foi quebrado pela chuva que descia em cascata dos telhados e se espalhava pelo chão de ardósia, produzindo som inspirador de profunda paz, tão necessária a esta cidade onde o ruído parece não ter fim.
Ao amanhecer, raras pessoas se aventuram a sair de casa e as janelas se mantiveram semicerradas o dia inteiro.
Desde que a friagem começou, o silêncio se instalou como uma prece - o povo reverencia, com alívio, a temperatura amena, após quatro dias de ventos quentes e hostis.
Até o sol parece descansar por detrás das nuvens cinzentas.
Às vezes, o cântico lamentoso de um pássaro se incorpora ao som monótono da chuva e, o dia segue preguiçoso.
Espio pela vidraça e através dos pinheiros observo a umidade intensa.
A noite chega envolta em cortina de espessos chuviscos.
A massa cinzenta de nuvens que tolda o céu promete permanecer por dias.
Se a chuva não ceder em dois ou três dias, uma das vizinhas certamente oferecerá ovos à Santa Clara, que costuma responder trazendo sol de volta.
Enquanto isso não acontece, é bem vinda a letargia, que mantém as pessoas mais calmas e nos convida a introspecção.