PEQUENO ENSAIO SOBRE AXIOMAS

Certo, digamos, como a maioria, que quem ouve mais compreende muito melhor. Tudo bem. Mas, pergunto: se todos ouvirem mais, quem estará falando em excesso para que ouçamos em respeitoso silêncio? Novamente indago: então essa máxima não vale para aqueles que falam muito aos que ouvem mais para entender melhor? Por que não? Vejo aí um disparate, senão uma incongruência. Pois se precisamos ouvir mais do que falar alguém terá que ficar falando bem acima do normal que nós para isso acontecer. Vem, por conseguinte, o impasse: e eles, os faladores em excesso, nunca compreenderão melhor porque somente eles continuarão se expressando mais para que os ouvintes que ouvem mais entendam melhor? Algo semelhante acontece com dar a outra face se nos aplicarem um bofetão, haverá sempre uma vítima e um agressor, aquela evidentemente boazinha, compreensiva e gentil, este como de praxe o malvado, o malfeitor, o incorrigível. Não seria melhor se só existissem os boas-praças que respondem com sorrisos os olhares carrancudos?

Perceberam como os assaltantes agem com a maior facilidade, sem qualquer temor? Esses facínoras já sabem de antemão que a sociedade jamais reagirá a suas investidas criminosas, assim andam em plena luz do dia roubando os bens dos cidadãos pacatos que simplesmente não reagem e são obrigados e humilhados a entregar o patrimônio aos bandidos safados e assassinos. Eles se mostram tão a cavaleiro que, sarcásticos, assaltam sem armas apenas colocando a mão no bolso para dar a impressão de que estão armados. Ah, e quando alguma vítima destemida se atreve a revidar a violência própria desses indivíduos criminosos terminando por mandar o miserável desta para pior, é um Deus nos acuda! Ao final, acabará passando por intermináveis constrangimentos, tantos e tamanhos que, arrependido, ele refletirá se não teria sido mais tranquilo entregar a carteira e o relógio para o meliante com vistas a evitar todas essas consequencias e desconfortos.

Eis a razão por que questiono, ou cutuco ou reflito com os meus botões a respeito de determinados axiomas cuja essência, por vezes, dão muitos panos pra manga, isto é, há espaço em suas entrelinhas para concluirmos que o buraco, nesses casos específicos, parece ser realmente mais embaixo. Nem sempre algo dito por alguma celebridade pode ou deve ter o condão de verdade incontestável. Dissequemos o recôndito do conteúdo, analisemos o ponto de vista com visão crítica sem nos deixarmos levar pela onda que passa apenas porque todos são "Maria vai com as outras".