Guerra Interna.

A noite chegou triste/fria/ chuvosa/ chorosa.

O mar se arremessava debalde por sobre pedras

e muretas, engolindo a areia inerte.

O céu encobria as estrelas em seus infinitos

pontos de luz, cristais perdidos no firmamento.

Na mesa, o vinho que colore as taças enche de

sabor/ tons/odores/ sons. Aquece o frio momento.

No gole o afago suave que renova/reconforta e

inebria...

... embriagando os sentimentos e adormecendo o corpo.

A luz tênue/ mágica do poste ao longe, nublado pela

fina chuva,molhado pela maresia, camuflado pela lágrima

de saudade, se faz e desfaz á cada nuance.

O som forte e sutil do arrebentar do mar, pedia paz para

a guerra interna/ diária.

Rezar já não basta.

Chorar já não é suficiente.

Tomar um porre?

Vai machucar o corpo tanto quanto a alma...

... e você não vem,

não veio,

não virá.

Você se foi há muito e não há como revolver

as areias do tempo.

Construir sobre ruínas é árdua e dolorosa tarefa.

Inútil. Castelo de areia sem rei, rainha e sonhos.

Eu parti de mim mesma, me fragmentei,me perdi

e nunca tive certeza de que me encontrei.

Me encontrarei?

Onde de mim estarei, quando tiver a certeza que

me perdi ao te perder?

Vi você se esvaindo da minha vida.

Em silêncio, sóbrio, absoluto.

Em total período de nebulosidade, que agora tal

qual a chuva criadeira que cai lá fora, molha aos

poucos e com intensidade a areia e minha essência.

Noite chuvosa,

noite vazia de presença;

noite repleta de saudades.

Acho mesmo que em noites como hoje,

sou ou busco ser apenas ou tão intensamente

alguém que já não fui/ sou e nem sei se serei.

Márcia Barcelos.

Maio de 1994.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 22/06/2010
Código do texto: T2334545