Pamonha sob encomenda

Essa foi meu pai que me contou.

Quando ele era bem moço, morava com sua família em uma fazenda. Na época de milho verde, claro que faziam pamonhas.

E fazer pamonha, é muito mais que produzir um alimento. É um momento de convívio, de amizade, de conversa solta, de confraternização entre amigos e familiares. Normalmente nos fins de semana. Penso que equivale a fazer um churrasco nos dias de hoje.

E meu pai fez uma pamonha especial destinada a uma prima (a qual seria mais tarde a minha madrinha de batismo). E caprichou: pedaços de sabugo, tiras de folhas de milho, grãos sem ralar, sal em exagero, essas coisas assim, tudo por conta da brincadeira, claro.

A idéia era de que quando ela fosse se servir, pegaria essa “batizada”, e seria uma farra entre eles. Claro que ela não a comeria, desfazendo e pegando outra, uma “normal”.

Ocorre que chegou uma visita inesperada, na hora que iam começar a servir. Essa visita, era um homem da região, moço sisudo, sistemático, de pouca conversa, muito ignorante. Coisa típica dos anos 50. E o dito foi convidado a comer, no que aceitou. E como por educação, visitas têm preferência, foi o primeiro a se servir. E pegou exatamente a bendita pamonha, que estava grande, convidativa, destacando entre as demais.

Meu pai viu, mas como o homem era muito fechado, carrancudo, ficou com receio de falar, explicar que aquela era uma brincadeira dele e ser repreendido.

O homem, constrangido em avisar que tinha pego uma pamonha com defeito, seria um desfeita para os donos da casa, não teve jeito: comeu a dita cuja inteira.

E assim que terminou, se desculpou, alegando estar com pressa e foi embora rapidinho.

Meu pai só comentou sobre o ocorrido com as demais pessoas da casa, depois que a vítima fora embora.

Para os mais descontraidos, aquilo foi uma farra. Até porque a vítima era tido um homem mal humorado, antipático mesmo. Já os mais maduros e conservadores, ficaram preocupados com a reação do homem.

Não sei sobre as conseqüências posteriores desse feito.

Faria Costa
Enviado por Faria Costa em 22/06/2010
Reeditado em 25/06/2010
Código do texto: T2334534
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