Olhos de Zumbi

OLHOS DE ZUMBI Depois de cinco anos, voltei em Belo Horizonte. Fui de ônibus porque com este preço de combustível, agricultor tem que andar de ônibus, torcendo para que daqui uns dias não seja obrigado andar a pé. Quando a gente anda de ônibus é que vê o que a população de cidade grande sofre. Penso até que não é sofrimento, é um estado de letargia. Ficam ali, parados, enfrentando enormes filas para fazer qualquer coisa, olhando só por olhar e não vendo nada. Se o ônibus atrasa, o que é que tem? É assim que funciona. Se vem muito cheio, o que é que tem? Todo dia é assim. Se o motorista pisa no freio com força, você vê um velho cair na sua frente, o que é que tem? O motorista também está estressado. Se você achar uma pessoa caída no passeio, penso que estava morta, o que é que tem? Se você parar para tentar ajudar, a polícia, se chegar, vai achar que você é o primeiro suspeito. Vai ter de gastar seu futuro l3 só para ir na delegacia prestar depoimentos. Se você for almoçar num Selv Service, a gente almoça numa mesa de frente para uma pessoa e se reparar bem, vê que aquele indivíduo está ali mas não te enxerga, penso até que come e não sabe que está almoçando. E se você for num campo de futebol? Aí não tem letargia, é guerra mesmo. Parece até que num jogo de futebol as pessoas descarregam tudo que a cidade grande tem de ruim. Ficam durante a semana acumulando coisas negativas como se fossem um depósito. Quando chega final de semana o depósito está cheio, tem que ser esvaziado para que caiba as frustrações da próxima semana. Para jogar este lixo fora, vale tudo. Bater no torcedor adversário achando que ele é o culpado pela sua triste vida. Quebrar o ônibus como se fosse tiro ao alvo, não sabendo que dentro do seu íntimo, ele está se vingando do que passou durante a semana por causa deste ônibus que só passa atrasado e cheio. Sou obrigado a reconhecer que este tipo de pessoa é menos

infeliz. E aquele que não pode ir no futebol e fica em casa com a família vendo os reclames do capital. Coitadinho, tem que ter um depósito de lixo maior que sua própria casa. Escutar um apresentador de televisão falando que um cantor de axé vendeu l50 milhões de discos num país de quase l00 milhões de desempregados, penso que seria melhor jogar pedra num ônibus do que ouvir uma barbaridade dessa.

Mais uma vez, coitadinho do povo brasileiro, para todo lado que vira está cercado pela incompetência de sua própria raça que não consegue achar uma classe política que realmente defenda o cidadão brasileiro como um todo.

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 21/06/2010
Código do texto: T2333421
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