Crônica curta (4) – Agonia dando na canela
Meu Deus, que porra é essa? Essa agonia, esse ver-me fora de mim, essa vontade excomungar o dia de hoje!
Tomo um banho, e outro, escovo os dentes, faço a barba, e uma coisa suja resta, algo excessivo. Tenho calor. Ligo o condicionador de ar. Não transpiro. Bato os dentes, mas faz calor. Puta merda, que negócio é esse?
Tenho muita fome. Como muito. Dois pratos. E vai banho, barba, frio artificial. E a agonia fica, crescendo do estômago, roçando nos dentes. Falta ar, embora eu respire com facilidade.
Que doidice: umas coisas faltam, outras excedem, o pensamento turva. Que porra é essa? Um encosto? Nunca vi um mal-estar assim, sem qualquer manifestação física – pois do que reclamo é imaginação, que a saúde está perfeita: salvo a certeza da morte.
Desânimo rajado de intensas vontades de apertar um pescoço. Desespero em forma de expectativa. Uma doidice. Uma porra de um negócio que me deu.
Pensei que fosse virar lobisomem, mas dormi e acordei perfeitamente são.