MOLDURAS
Quando estou curtindo a sensação de estar bem, não sei a que impulsos estou atendendo. Não sei também até que ponto devo pensar nisso. Acho que a sensação será prejudicada se eu pensar muito. Sensação é para sentir e não para pensar. E isso é o mais difícil: sentir uma coisa ao ponto de não pensá-la. Até porque o corpo pensa e sente. É um erro achar que só se pensa com a cabeça e que só se sente com corpo.
Mas toda vez que lembro meus bons momentos ou lembro-me de que sou feliz por causa deles, por eles terem acontecido no passado, não estou sendo feliz neles (com eles); distancio-me deles para observar-me feliz: tenho uma lembrança feliz. Será que nesse momento jogo minha felicidade fora? Acho que sim. Porque uma pessoa feliz não tem tempo para observar nada. A felicidade é uma plenitude sempre momentânea, mas, repito, PLENA!!. O feliz não observa; "feliceia".
Veja só a diferença entre você ter uma lembrança, de qualquer momento da sua vida, que aparece para você como se fosse um quadro, com todos os detalhes, uma paisagem. Aí você fica ali contemplando, chorando, rindo, saudoso, indiferente, enfim, você diante do quadro adquire um determinado estado de alma. Eis a cena: você (com seu estado) e o quadro (com sua moldura).
Agora imagine outra cena em que você lembra um momento com você dentro dele sem poder vê-lo separado de você, ou seja, você pode até rever um cenário mas não pode rever você. É como se você estivesse em um quadro, mas não vendo o quadro, de modo que você vê todo o cenário que compõe o quadro, porém não vê as molduras e não vê você. O cenário acontece de novo e traz você com ele, ou seja, você não lembra; você vive.
Pois bem, será que a segunda situação é possível? Acho que sim e acho que não! Acho que sim porque um cenário não acaba quando termina. Um momento de genuína felicidade permanece no ser que "feliceiou". Permanece sob uma forma de felicidade arrefecente, vai se esvaindo e conforme cada pessoa essa felicidade fica mais ou menos tempo. Todas as coisas, pessoas e fatores que compunham o momento genuíno de felicidade deixam-se, desintegram-se, transferem-se para a corporeidade da pessoa que "feliceiou". Esta pessoa, ainda feliz, tem em si tudo o que constituía aquele momento. Nesse sentido ela experimenta de um modo corporal (entendo como parte do corpo o próprio pensamento) a felicidade ainda existente daquele momento. É isso que chamo de CORPOREIDADE: um processo de vida que não privilegia o intelecto (a razão) em detrimento dos demais órgãos do corpo humano. O corpo é um complexo de forças. O corpo é um grande pensador.
Por tudo isso acredito que aquela nossa segunda hipótese é, de certa forma, possível: eu passo a fazer parte daquele quadro porque ele ainda existe em mim não enquanto lembrança (mnemonicamente), mas enquanto constituinte da minha corporeidade. Porque se for só lembrança, estaremos na primeira hipótese. Se quisermos, para facilitar o entendimento, podemos chamar de energia a forma na qual os componentes da felicidade permanecem em nós na segunda hipótese.
Quanto a primeira hipótese: contemplar o quadro com você, "feliz", lá dentro. Esta também é possível, mas não é própria da felicidade. Porém como a felicidade é "uma das" possibilidades do homem, também é normal o homem não-feliz.
Quando estou curtindo a sensação de estar bem, não sei a que impulsos estou atendendo. Não sei também até que ponto devo pensar nisso. Acho que a sensação será prejudicada se eu pensar muito. Sensação é para sentir e não para pensar. E isso é o mais difícil: sentir uma coisa ao ponto de não pensá-la. Até porque o corpo pensa e sente. É um erro achar que só se pensa com a cabeça e que só se sente com corpo.
Mas toda vez que lembro meus bons momentos ou lembro-me de que sou feliz por causa deles, por eles terem acontecido no passado, não estou sendo feliz neles (com eles); distancio-me deles para observar-me feliz: tenho uma lembrança feliz. Será que nesse momento jogo minha felicidade fora? Acho que sim. Porque uma pessoa feliz não tem tempo para observar nada. A felicidade é uma plenitude sempre momentânea, mas, repito, PLENA!!. O feliz não observa; "feliceia".
Veja só a diferença entre você ter uma lembrança, de qualquer momento da sua vida, que aparece para você como se fosse um quadro, com todos os detalhes, uma paisagem. Aí você fica ali contemplando, chorando, rindo, saudoso, indiferente, enfim, você diante do quadro adquire um determinado estado de alma. Eis a cena: você (com seu estado) e o quadro (com sua moldura).
Agora imagine outra cena em que você lembra um momento com você dentro dele sem poder vê-lo separado de você, ou seja, você pode até rever um cenário mas não pode rever você. É como se você estivesse em um quadro, mas não vendo o quadro, de modo que você vê todo o cenário que compõe o quadro, porém não vê as molduras e não vê você. O cenário acontece de novo e traz você com ele, ou seja, você não lembra; você vive.
Pois bem, será que a segunda situação é possível? Acho que sim e acho que não! Acho que sim porque um cenário não acaba quando termina. Um momento de genuína felicidade permanece no ser que "feliceiou". Permanece sob uma forma de felicidade arrefecente, vai se esvaindo e conforme cada pessoa essa felicidade fica mais ou menos tempo. Todas as coisas, pessoas e fatores que compunham o momento genuíno de felicidade deixam-se, desintegram-se, transferem-se para a corporeidade da pessoa que "feliceiou". Esta pessoa, ainda feliz, tem em si tudo o que constituía aquele momento. Nesse sentido ela experimenta de um modo corporal (entendo como parte do corpo o próprio pensamento) a felicidade ainda existente daquele momento. É isso que chamo de CORPOREIDADE: um processo de vida que não privilegia o intelecto (a razão) em detrimento dos demais órgãos do corpo humano. O corpo é um complexo de forças. O corpo é um grande pensador.
Por tudo isso acredito que aquela nossa segunda hipótese é, de certa forma, possível: eu passo a fazer parte daquele quadro porque ele ainda existe em mim não enquanto lembrança (mnemonicamente), mas enquanto constituinte da minha corporeidade. Porque se for só lembrança, estaremos na primeira hipótese. Se quisermos, para facilitar o entendimento, podemos chamar de energia a forma na qual os componentes da felicidade permanecem em nós na segunda hipótese.
Quanto a primeira hipótese: contemplar o quadro com você, "feliz", lá dentro. Esta também é possível, mas não é própria da felicidade. Porém como a felicidade é "uma das" possibilidades do homem, também é normal o homem não-feliz.