MELHOR QUE DAR O PEIXE É ENSINAR A PESCAR - II
Uma das coisas que, verdadeiramente, mexem comigo é a educação. E o que eu vejo, a curto prazo, na escola pública, é uma perspectiva de padrão educacional bastante modesto para os novos tempos, para um mundo globalizado. E isso não é culpa exclusiva de uma boa parte dos profissionais da educação. É, sim, o modelo adotado pelos governos que não privilegiam, de fato, as mudanças ocorridas no mundo, a partir dos anos 90, com exceções.
Pois bem. De volta do Congresso sobre Dificuldades na Aprendizagem, eu me reuni - nos dias em que estou à disposição do Programa Proinfantil -, com os outros professores, e passei a fazer diversos questionamentos, induzindo-os a uma reflexão sobre o que tínhamos visto e ouvido e, depois, sobre a forma como está se processando, em nós, essa internalização sobre os assuntos abordados.
- Vejo como positiva, professor, a nossa ida a João Pessoa, falou-me uma delas, descrevendo que esse intercâmbio, entre professores dos diversos recantos do país, é uma troca gratificante de informações e ajuda a montar um quadro de como se trabalha as dificuldades de cada realidade.
Concordei com ela. Mas, o que eu queria ouvir, na verdade, era a opinião sobre essa dicotomia existente entre a teoria e o discurso, na prática educativa. E ela só veio, dias depois, quando eu me desloquei para a cidade de Baraúna - pertinho aqui da minha cidade - para fazer um levantamento sobre o profissional que trabalha com a Educação Infantil, em sala de aula, mas que ainda não tem uma habilitação, ao nível médio, em Magistério ou, ao nível de graduação, em Pedagogia.
Quando lá cheguei, fui recebido por uma professora que, por coincidência, havia participado do mesmo Congresso que eu. Enquanto esperávamos a chegada dos dados, do levantamento do quadro de professores, nós iniciamos uma boa e profusa discussão que, diante do tema - e por estarmos num núcleo onde todos entendiam do assunto -, a plateia foi participando ativamente das deixas de cada um de nós.
- Sabe, professor, eu estou cansada de ouvir discursos onde, nem de longe, as teorias apreendidas, são colocadas em prática. Ficam apenas no campo da retórica, da falação inflamada, disse a professora que havia participado do Congresso. Veja - continuou ela -: já é a oitava vez que eu participo desse evento e é sempre a mesma coisa, inclusive, em algumas palestras, os slides ainda são os mesmos. Na verdade, concluiu ela, esses “doutores” estão promovendo apenas uma palestra de autoajuda, nada mais.
Fiquei pensativo, confesso. Lembrei-me que, em algumas palestras, de fato, se fosse aplicada a metodologia usada por eles, em sala de aula, elas não durariam 10 minutos. Alguns dos palestrantes, por sinal, não utilizaram nada, apenas usaram a verve - como se fossem profissionais teatrais - e discorreram sobre episódios particulares, e como ajudaram na solução dos mesmos. Outros, conduziram o seu tempo com brincadeiras e danças que (por sinal, as músicas e as letras eram de mau gosto), se feitas em sala de aula, o desinteresse ou a balbúrdia seria a tônica da atividade.
Esqueceram-se que ali estavam educadores que enfrentam, dezenas de vezes, as mesmas situações descritas. E vencem as intempéries da mesma forma que eles.
- Outra coisa - prosseguiu ela -: essa questão de se aperfeiçoar com uma pós, por muitos profissionais da educação, muitas vezes, é somente para obter o título e, através dele, conseguir aumento nos seus rendimentos, consequentemente, uma melhora na aposentadoria. A metodologia, infelizmente, continua a mesma da sua época de graduação.
Mas, interrompi eu, a culpa, nesses casos, não é da escola, é?
- Também, falou ela com veemência. Se a escola que manda seus profissionais, ou sabe que seus profissionais estão sendo capacitados - mesmo que seja com recursos próprios - e não cobra os conhecimentos adquiridos por eles, para uma melhor metodologia junto ao alunado, é conivente com essa mesmice que impregna as salas, principalmente, da escola pública.
- Outra coisa: quem quer dar uma boa aula não precisa ter muito em mãos. Só precisa usar a criatividade e a disponibilidade para isso. Existem bibliotecas, a realidade que nos cerca, e a boa vontade de ensinar, disse ela, concluindo o seu raciocínio.
Intimamente, tive que concordar com ela. No meu caminhar pelos corredores da educação, tenho visto exemplos desses.
- É verdade, assinou embaixo uma das professoras que me acompanhavam. O fato de ele estar desmotivado, em final de carreira, preso aos seus estigmas da época de graduação, não lhe dá o direito de relaxar em sua profissão. Afinal de contas, bem ou mal, ele está sendo remunerado para repassar aquilo que lhe faz competente dentro de uma sala de conhecimentos.
- Além do mais, disse outra colega que se encontrava a nos escutar, o que leva uma boa parte dos profissionais a não exercerem bem a sua função pedagógica não é o baixo salário, não é a falta de capacitação e nem é o desestímulo por trabalharem em escolas sucateadas, sem o mínimo de condições, muitas delas, em situação de risco. Não é isso, disse ela, olhando nos olhos de cada um de nós. O que leva esses profissionais a não terem um compromisso com a educação é, simplesmente, o fato de eles não serem “vocacionados”, de eles não sentirem apego, vínculo, por aquilo que fazem. Estão ali somente por conveniência, por salário, e não por amor à educação, ao que fazem.
Confesso que eu me arrepiei todo diante da fala da nobre colega. Infelizmente, isso também eu tenho visto pelos corredores da educação...
Uma das coisas que, verdadeiramente, mexem comigo é a educação. E o que eu vejo, a curto prazo, na escola pública, é uma perspectiva de padrão educacional bastante modesto para os novos tempos, para um mundo globalizado. E isso não é culpa exclusiva de uma boa parte dos profissionais da educação. É, sim, o modelo adotado pelos governos que não privilegiam, de fato, as mudanças ocorridas no mundo, a partir dos anos 90, com exceções.
Pois bem. De volta do Congresso sobre Dificuldades na Aprendizagem, eu me reuni - nos dias em que estou à disposição do Programa Proinfantil -, com os outros professores, e passei a fazer diversos questionamentos, induzindo-os a uma reflexão sobre o que tínhamos visto e ouvido e, depois, sobre a forma como está se processando, em nós, essa internalização sobre os assuntos abordados.
- Vejo como positiva, professor, a nossa ida a João Pessoa, falou-me uma delas, descrevendo que esse intercâmbio, entre professores dos diversos recantos do país, é uma troca gratificante de informações e ajuda a montar um quadro de como se trabalha as dificuldades de cada realidade.
Concordei com ela. Mas, o que eu queria ouvir, na verdade, era a opinião sobre essa dicotomia existente entre a teoria e o discurso, na prática educativa. E ela só veio, dias depois, quando eu me desloquei para a cidade de Baraúna - pertinho aqui da minha cidade - para fazer um levantamento sobre o profissional que trabalha com a Educação Infantil, em sala de aula, mas que ainda não tem uma habilitação, ao nível médio, em Magistério ou, ao nível de graduação, em Pedagogia.
Quando lá cheguei, fui recebido por uma professora que, por coincidência, havia participado do mesmo Congresso que eu. Enquanto esperávamos a chegada dos dados, do levantamento do quadro de professores, nós iniciamos uma boa e profusa discussão que, diante do tema - e por estarmos num núcleo onde todos entendiam do assunto -, a plateia foi participando ativamente das deixas de cada um de nós.
- Sabe, professor, eu estou cansada de ouvir discursos onde, nem de longe, as teorias apreendidas, são colocadas em prática. Ficam apenas no campo da retórica, da falação inflamada, disse a professora que havia participado do Congresso. Veja - continuou ela -: já é a oitava vez que eu participo desse evento e é sempre a mesma coisa, inclusive, em algumas palestras, os slides ainda são os mesmos. Na verdade, concluiu ela, esses “doutores” estão promovendo apenas uma palestra de autoajuda, nada mais.
Fiquei pensativo, confesso. Lembrei-me que, em algumas palestras, de fato, se fosse aplicada a metodologia usada por eles, em sala de aula, elas não durariam 10 minutos. Alguns dos palestrantes, por sinal, não utilizaram nada, apenas usaram a verve - como se fossem profissionais teatrais - e discorreram sobre episódios particulares, e como ajudaram na solução dos mesmos. Outros, conduziram o seu tempo com brincadeiras e danças que (por sinal, as músicas e as letras eram de mau gosto), se feitas em sala de aula, o desinteresse ou a balbúrdia seria a tônica da atividade.
Esqueceram-se que ali estavam educadores que enfrentam, dezenas de vezes, as mesmas situações descritas. E vencem as intempéries da mesma forma que eles.
- Outra coisa - prosseguiu ela -: essa questão de se aperfeiçoar com uma pós, por muitos profissionais da educação, muitas vezes, é somente para obter o título e, através dele, conseguir aumento nos seus rendimentos, consequentemente, uma melhora na aposentadoria. A metodologia, infelizmente, continua a mesma da sua época de graduação.
Mas, interrompi eu, a culpa, nesses casos, não é da escola, é?
- Também, falou ela com veemência. Se a escola que manda seus profissionais, ou sabe que seus profissionais estão sendo capacitados - mesmo que seja com recursos próprios - e não cobra os conhecimentos adquiridos por eles, para uma melhor metodologia junto ao alunado, é conivente com essa mesmice que impregna as salas, principalmente, da escola pública.
- Outra coisa: quem quer dar uma boa aula não precisa ter muito em mãos. Só precisa usar a criatividade e a disponibilidade para isso. Existem bibliotecas, a realidade que nos cerca, e a boa vontade de ensinar, disse ela, concluindo o seu raciocínio.
Intimamente, tive que concordar com ela. No meu caminhar pelos corredores da educação, tenho visto exemplos desses.
- É verdade, assinou embaixo uma das professoras que me acompanhavam. O fato de ele estar desmotivado, em final de carreira, preso aos seus estigmas da época de graduação, não lhe dá o direito de relaxar em sua profissão. Afinal de contas, bem ou mal, ele está sendo remunerado para repassar aquilo que lhe faz competente dentro de uma sala de conhecimentos.
- Além do mais, disse outra colega que se encontrava a nos escutar, o que leva uma boa parte dos profissionais a não exercerem bem a sua função pedagógica não é o baixo salário, não é a falta de capacitação e nem é o desestímulo por trabalharem em escolas sucateadas, sem o mínimo de condições, muitas delas, em situação de risco. Não é isso, disse ela, olhando nos olhos de cada um de nós. O que leva esses profissionais a não terem um compromisso com a educação é, simplesmente, o fato de eles não serem “vocacionados”, de eles não sentirem apego, vínculo, por aquilo que fazem. Estão ali somente por conveniência, por salário, e não por amor à educação, ao que fazem.
Confesso que eu me arrepiei todo diante da fala da nobre colega. Infelizmente, isso também eu tenho visto pelos corredores da educação...
Obs. Imagem da internet