O CABARÉ ELDORADO
O banco da praça agora o abriga por horas. A cada dia que passa mais horas disponíveis para o banco, aumentam. As pessoas passam rápidas em sua frente como se não o vissem. Havia se tornado invisível para os outros e muitas vezes para sí mesmo. Descobriu que sendo assim, ninguem o iria atrapalhar em suas lembranças,. E, elas são tão reais que por pouco não as apalpa.
Houve um tempo que o banco não o conhecia, nem ele ao banco. Eram totalmente desconhecidos. Também ele passava ligeiro por alí onde certamente outro estaria sentado, invisivelmente sentado. A sorte que ele tinha um amontoado de recordações para ocupar sua mente, agora tão desocupada.
Já fora bonito, magro e pálido, sempre pálido. Modelo perfeito da época.No entanto, esse era seu encanto. As mulheres o rodeavam para cuida-lo. Ele reavivava o instinto maternal das damas. E, assim de mão em mão, ele usufruiu de muito carinhos, de muitos amores.
Mas, mal a noite caía, ele desaparecia. Com passos rápidos, alcançava seu destino. O cabaré Eldorado, na feira de Campina Grande. Não, nada tinha desses que voces estão pensando. O Eldorado era simplesmente a perfeição, o desejo de todos os homens. Instalado num prédio majestoso, era imponente. Logo na entrada, duas lindas recepcionistas davam as boas vindas, recebiam os chapéus dos visitantes, e, falavam sobre as funções da noite. Por vezes diziam os nomes das mais disputadas damas disponíveis na casa. Não eram mulheres comuns, eram as mais belas mulheres da região. Eram selecionada á dedo pela propietária da casa. Ao chegar, eram examinadas do pé á ponta. A pele tinha que ser sedosa, sem nenhuma marca, os cabelos macios, bem cuidados, os peitos bem contornados, as ancas redondas, e, uma coisa era fundamental, a boca, essa tinha que ser carnuda e risonha permanentemente. Era exigido também que soubessem dançar e seduzir. Mas, seduzir com classe, com categoria. Nada de nudez explícita. A beleza era resguardada para os momentos propícios. As roupas impecáveis, deixavam aparecer muito pouco dos atrativos físicos. Um pouco do seio, ou uma fenda na saia desvendando uma perna, era o máximo de ousadia. O cheiro forte de perfume frances invadia o ambiente. Um som tocava músicas de gardel.
Á meia noite começava o ofício. As mulheres ricamente vestidas dançavam e cantavam no salao, como se artistas fossem. Após o espetáculo, e, só então, elas se dirigiam ás mesas convidadas por algum senhor de engenho, algum doutor, ou político.Dali para os quartos onde eram vividos momentos de prazer intenso.
Toda noite ele vinha, mas, nunca conseguia juntar dinheiro suficiente para pagar os serviços de uma delas. Passava a noite a tomar uma bebida qualquer e a cobiçar com os olhos o objeto desejado. Nessa hora, sonhava que estava a sós com essa ou aquela, mas, fatalmente ela iria com outro.Imaginava como seria afundar as maõs naqueles cabelos, enlaça-la e rodopiar pela sala. Imaginava como seria possuir aquele corpo, te-lo por momentos só para sí, longe dos olhares gulosos dos presentes.
Mas, os anos foram passando, as mulheres se renovando, mas seu desejo persistia e sua peregrinação ao cabaré Eldorado o perseguiu por anos a fio.
Agora, sentado aquí no banco, olha as mulheres, os homens, colegas de caminhada na vida, e, fica a pensar. Será que algum deles teve o previlégio de viver e conviver com as mulheres do Eldorado. Mesmo sem as ter, terá valido á pena. Ele pelo menos tinha essa boa lembrança para curtir. Nessa hora, um riso ilumina seu rosto. Pelo menos, em parte, foi feliz.