Os padres e a castidade
No seminário, ensinavam-me, que para ser padre, o cidadão teria que ser casto.
O Houaiss diz que castidade significa abstinência, candura, continência, inocência, modéstia, pureza, virgindade, virtude.
Depois de muito meditar, cheguei à conclusão de que, embora não me considerasse um incorrigível lúbrico, não seria, nunca, um sujeito indiscutivelmente casto. Me faltaria esse requisito para que eu me tornasse um franciscano autêntico.
E mais: além do voto de Castidade, eu ainda teria que guardar os votos de Pobreza e Obediência.
Advertido, a tempo, pelo Espírito Santo, desisti do hábito seráfico, e nunca me arrependi. Fora leal a São Francisco de Assis, adotando-o, em seguida, como meu santo predileto e protetor de todas as horas.
Josué Montello, numa belíssima crônica franciscana, disse, referindo-se ao Poverello, o mesmo que eu, desde muito, venho constatando, e aqui declaro.
O saudoso romancista maranhense escreveu:
- "Por alguns episódios de minha vida, tenho a consoladora impressão de que este santo, se não me acompanha, pelo menos faz sentir que me protege.
Eu, por meu lado, faço subir até ele, nas ocasiões adequadas, os sinais de minha devoção."
Anote-se que Josué Montello não era católico.
Parece-me que era evangélico ligado, não sei, se à Igreja Presbiteriana ou à Igreja Luterana.
Me disse certa feita um franciscano, que dos três votos que jurara respeitar, a Obediência lhe causava repetidos transtornos.
De outro ouvi, que, obedecer e ser pobre não era tão difícil. Causava-lhe maiores problemas preservar a castidade, principalmente quando lhe era exigida total abstinência sexual. Em outras palavras: as mulheres não o deixavam em paz.
Não sei dizer que rumo ele tomou.
Como, segundo o Houaiss, se pode ser casto de várias maneiras, espero que o sincero frade, afastadas as tentações, tenha permanecido no convento distribuindo sua seráfica alegria e contagiante simpatia.
E sobre a castidade sacerdotal, tenho em mãos uma crônica do Carlos Heitor Cony abordando, de forma magnífica, esse assunto, por mim sempre tratado, com muito respeito e carinho.
Não desrespeitarei a recomendação do Recanto das Letras que proíbe a publicação de textos que não sejam do titular do site, ao transcrever ( eu disse transcrever) a crônica "Contra a maré", do autor de Informação ao Crucificado.
Assim entendo, eis aqui o que escreveu o Cony, crônica publicada em um jornal de circulação nacional.
"Contra a maré - Rio de Janeiro - Como se não bastassem os problemas que nos afligem, com violência nas cidades e nos campos, esquartejamento em penitenciárias rebeladas e corrupção nas altas esferas da administração pública, a mídia de repente decidiu se preocupar com a castidade dos padres.
Ficamos sabendo que mais de 40% dos sacerdotes católicos já mantiveram relações com mulheres em nível acima do platônico.
O mundo não virá abaixo por causa disso. É problema que diz respeito ao indivíduo que faz voto de castidade e não o cumpre. Em absoluto interfere com o ministério. Um médico leproso ou aidético pode curar ou melhorar as condições de vida de um portador da mesma doença.
Curiosamente, recebi um e-mail que me ensinou o que eu não sabia. A castidade teria sido inventada pelos católicos, e os dez mandamentos de Moisés são realmente nove.
O sexto mandamento, que na Bíblia judaico-cristã diz textualmente "não pecar contra a castidade", segundo o missivista diz apenas "não matarás", que todo mundo pensa ser o quinto.
Outra confusão sobre o assunto: o celibato dos padres católicos não é dogma de fé, mas simples costume. Pode ser abolido a qualquer momento.
A castidade é apenas uma virtude, como a humildade, a caridade e até mesmo a pobreza.
Há ordens religiosas em que o voto de pobreza é obrigatório. Faz quem quer e pode.
Um papa ou um concílio podem abolir o celibato dos sacerdotes. Não podem, porém, proibir que qualquer um pratique com lucidez uma virtude. Ninguém tem a obrigação de ser casto, humilde ou caridoso. A virtude é uma força, não um poder.
Eu deveria estar escrevendo sobre a Copa do Mundo, a estreia do Brasil. Preferi remar contra a maré, evitando a redundância."
Cony foi o que se diz comumente: foi quase padre!
Embora se declare ateu, guarda consigo - ao que me parece - uma elogiável convicção religiosa não encontrada em muitos frequentadores das nossas mais badaladas sacristias.
Nos seu escritos, ele deixa transparecer que mantém, com absoluta firmeza, o que aprendeu nos seminários, menor e maior.
Todavia, se entende necessário, manifesta, com autoridade, sua discordância quando enfrenta temas religiosos, pela Santa Madre Igreja considerados irretocáveis.
Nesta sua crônica está a opinião abalizada e franca de um leigo - que se diz ateu? - sobre os nossos sacerdotes e a castidade.
Por isso, ela jamais poderá ser transcrita em pedaços. Tem que ser conhecida e lida, tal como o Cony a colocou circulando na grande mídia.
No seminário, ensinavam-me, que para ser padre, o cidadão teria que ser casto.
O Houaiss diz que castidade significa abstinência, candura, continência, inocência, modéstia, pureza, virgindade, virtude.
Depois de muito meditar, cheguei à conclusão de que, embora não me considerasse um incorrigível lúbrico, não seria, nunca, um sujeito indiscutivelmente casto. Me faltaria esse requisito para que eu me tornasse um franciscano autêntico.
E mais: além do voto de Castidade, eu ainda teria que guardar os votos de Pobreza e Obediência.
Advertido, a tempo, pelo Espírito Santo, desisti do hábito seráfico, e nunca me arrependi. Fora leal a São Francisco de Assis, adotando-o, em seguida, como meu santo predileto e protetor de todas as horas.
Josué Montello, numa belíssima crônica franciscana, disse, referindo-se ao Poverello, o mesmo que eu, desde muito, venho constatando, e aqui declaro.
O saudoso romancista maranhense escreveu:
- "Por alguns episódios de minha vida, tenho a consoladora impressão de que este santo, se não me acompanha, pelo menos faz sentir que me protege.
Eu, por meu lado, faço subir até ele, nas ocasiões adequadas, os sinais de minha devoção."
Anote-se que Josué Montello não era católico.
Parece-me que era evangélico ligado, não sei, se à Igreja Presbiteriana ou à Igreja Luterana.
Me disse certa feita um franciscano, que dos três votos que jurara respeitar, a Obediência lhe causava repetidos transtornos.
De outro ouvi, que, obedecer e ser pobre não era tão difícil. Causava-lhe maiores problemas preservar a castidade, principalmente quando lhe era exigida total abstinência sexual. Em outras palavras: as mulheres não o deixavam em paz.
Não sei dizer que rumo ele tomou.
Como, segundo o Houaiss, se pode ser casto de várias maneiras, espero que o sincero frade, afastadas as tentações, tenha permanecido no convento distribuindo sua seráfica alegria e contagiante simpatia.
E sobre a castidade sacerdotal, tenho em mãos uma crônica do Carlos Heitor Cony abordando, de forma magnífica, esse assunto, por mim sempre tratado, com muito respeito e carinho.
Não desrespeitarei a recomendação do Recanto das Letras que proíbe a publicação de textos que não sejam do titular do site, ao transcrever ( eu disse transcrever) a crônica "Contra a maré", do autor de Informação ao Crucificado.
Assim entendo, eis aqui o que escreveu o Cony, crônica publicada em um jornal de circulação nacional.
"Contra a maré - Rio de Janeiro - Como se não bastassem os problemas que nos afligem, com violência nas cidades e nos campos, esquartejamento em penitenciárias rebeladas e corrupção nas altas esferas da administração pública, a mídia de repente decidiu se preocupar com a castidade dos padres.
Ficamos sabendo que mais de 40% dos sacerdotes católicos já mantiveram relações com mulheres em nível acima do platônico.
O mundo não virá abaixo por causa disso. É problema que diz respeito ao indivíduo que faz voto de castidade e não o cumpre. Em absoluto interfere com o ministério. Um médico leproso ou aidético pode curar ou melhorar as condições de vida de um portador da mesma doença.
Curiosamente, recebi um e-mail que me ensinou o que eu não sabia. A castidade teria sido inventada pelos católicos, e os dez mandamentos de Moisés são realmente nove.
O sexto mandamento, que na Bíblia judaico-cristã diz textualmente "não pecar contra a castidade", segundo o missivista diz apenas "não matarás", que todo mundo pensa ser o quinto.
Outra confusão sobre o assunto: o celibato dos padres católicos não é dogma de fé, mas simples costume. Pode ser abolido a qualquer momento.
A castidade é apenas uma virtude, como a humildade, a caridade e até mesmo a pobreza.
Há ordens religiosas em que o voto de pobreza é obrigatório. Faz quem quer e pode.
Um papa ou um concílio podem abolir o celibato dos sacerdotes. Não podem, porém, proibir que qualquer um pratique com lucidez uma virtude. Ninguém tem a obrigação de ser casto, humilde ou caridoso. A virtude é uma força, não um poder.
Eu deveria estar escrevendo sobre a Copa do Mundo, a estreia do Brasil. Preferi remar contra a maré, evitando a redundância."
Cony foi o que se diz comumente: foi quase padre!
Embora se declare ateu, guarda consigo - ao que me parece - uma elogiável convicção religiosa não encontrada em muitos frequentadores das nossas mais badaladas sacristias.
Nos seu escritos, ele deixa transparecer que mantém, com absoluta firmeza, o que aprendeu nos seminários, menor e maior.
Todavia, se entende necessário, manifesta, com autoridade, sua discordância quando enfrenta temas religiosos, pela Santa Madre Igreja considerados irretocáveis.
Nesta sua crônica está a opinião abalizada e franca de um leigo - que se diz ateu? - sobre os nossos sacerdotes e a castidade.
Por isso, ela jamais poderá ser transcrita em pedaços. Tem que ser conhecida e lida, tal como o Cony a colocou circulando na grande mídia.