A silhueta da Lua

Tinha as mãos trêmulas, não sabia por que havia permanecido naquele lugar – tão vazio -, mas havia permanecido de alguma maneira, e tinha medo, as mãos trêmulas, o coração trêmulo, desequilibrado no peito, querendo saltar pra um lado qualquer apenas para não precisar sentir a tremedeira que arrepiava os pêlos do corpo e fazia o frio percorrer a espinha como uma corrente elétrica.

E agora não estava mais sozinha.

Não via sua face, apenas sua silhueta contornada por uma espessa camada de luz intensa, vinda dos postes da rua em sintonia ofuscante com a independente claridade da Lua, que quase o queimava... “Ah”, ela se perguntava, por que não queimava?! Podia queimá-lo, por um segundo que fosse, pra ver se todo aquele amor queimava também, evaporava, tornava-se cinzas, acabava levando um fim qualquer, não importava mais qual.

Mas supreendeu-se, não queimava – óbvio –, mas lhe estendia a mão, abria os braços. A luz que o contornava por dias até aquele segundo, dava início ao fim, lhe iluminava o rosto, e já não restavam apenas uma garota e uma silhueta. Restavam seus cachos, seu cabelo escuro, a pele branca e marcada, os olhos tristes, os ombros largos e os lábios lentamente ganhando coloração mais viva, não se sabe ao certo por quê.

Jogou-se devagar em seu peito, atônita. O coração ainda pulsando com força, desnorteado, mas agora querendo permanecer naquele peito que, ao lado de outro peito, ia aquecendo-o aos poucos. Sentiu a textura da lã em seu rosto, respirou fundo e sorriu. Era um sorriso meio bobo, descontrolado, sem ritmo, confundido com todas as palavras que queriam fugir pela garganta pra ir morrer naqueles lábios agora coloridos, pois queriam ser faladas tão de perto... Ela sentia todos os tipos de aperto que existem. E era tão bom.

Segurou aquela blusa de lã, ainda sentia frio. Levou os dedos abaixo daquele pescoço branco e, lentamente, suavemente, discretamente desenhou um coração, torcendo em silêncio para que aquele coração se infiltrasse na carne dele, lhe tirasse toda a tristeza e lhe devolvesse o brilho... O brilho nos olhos, porque é, desde sempre, através do brilho nos olhos que as pessoas reconhecem o seu verdadeiro amor.