PLANETA AZUL

Entre as minhas recordações, lembro-me muito bem, uma professora dizer que não agüentava mais os dias de domingo. Atentei-me mais para o assunto e estranhei o fato dela ser ‘teacher’ da área de Ciências. Continuei a explorar as causas: o tal Planeta Azul fazia parte do Fantástico. Fui meio carismático e questionei o porquê.

‘Pedro, eu quando ouço no Fantástico falar do Planeta Azul, dói-me às veias só de lembrar que no outro dia estarei na sala de aula’.

Dizia ela que a sexta-feira era um alívio: aulas apenas no período da manhã. À tarde folgava com um belo sono. À noite novelinha e cama outra vez. No sábado era preparar o almoço (isto depois das dez – antes era descanso), servido o almoço, nova soneca. Alguns passeios nas tardes variadas para compras (nem sempre, pois professor não ganha muito); retorno para descanso novamente (ou uma leve caminhada). No domingo repetia-se a mesma coisa, mas com um pequeno detalhe: bem no entardecer saía para a casa de uma amiga (de carro), para na volta abastecê-lo e, após o Planeta Azul, dormir e começar novamente a semana na manhã seguinte.

Sendo ela da área de Ciências e não poder ouvir falar do Planeta Azul... Por quê?

‘Simples’ – disse-me ela. ‘Tal programa lembra-me que no outro dia os danadinhos dos meus pupilos estarão a esperar-me’.

Interessante, murmurei.

‘Interessante? Nada disse, estressante’ – e completou ela: ‘Nesta altura do campeonato já estou a pedir sossego – e ainda lembrar que, além de dias aumentados no calendário, até o que nos foi dado como ponto facultativo nos foi tirado – deve ser reposto’.

É, amigo leitor, educação não é nada fácil, ainda mais quando o profissional não tem o devido valor!

(Memórias de um professor.)

16 de Abril de 2003.

Prof Pece
Enviado por Prof Pece em 05/09/2006
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