CRÔNICA – Um olhar sobre o passado

 

            A Copa Mundial em andamento na África do Sul tem algumas características diferentes das anteriores em vários aspectos: Primeiro, até parece que todas as seleções são japonesas, ou seja, têm a mesma cara e a mesma disposição de jogo, tudo nivelado por baixo; depois, as zebras estão funcionando até demais; pode-se dizer que essa é a competição mais fria de todos os tempos, não só pela temperatura do país, mas pela dinâmica dos jogos; por fim, a riqueza, a gastança, a suntuosidade com que se nos apresentam aos olhos, isso num país pobre e carente de quase tudo como o Brasil.

            A meu pensar, e isso é opinião pessoal, embora respeite todas as demais, as únicas equipes que praticaram até agora um bom futebol foram o México e Gana, que muito se aproximam do brasileiro, com toques de bola certeiros, envolventes, além da garra, sendo que nada o nosso país demonstrou possuir, pelo menos até agora. Bem, não falei na Argentina, pois todos sabem que sua escola é praticamente a mesma daqui do Brasil, mas só pra nós eles passaram na fase de classificação para o mundial a duras penas.

            Surge na minha cabeça, no meu juízo, dentro de mim uma reflexão, que não espero tenha adeptos, porque essa conclusão até pode ser falsa, eis que não está baseada em dados estatísticos e nem em pesquisas técnicas ou mesmo científicas. Ou melhor, pesquisa alguma fora feita nesse particular.

            Sendo verdade que o nosso Pelé foi o maior jogador de todos os tempos, embora os argentinos discordem, e tendo sua origem nos africanos que para o Brasil foram enviados no tempo da escravatura, pode-se de início chegar a uma dedução meio precária de que a África é realmente o país do futebol. Apenas não fora e ainda não está tão desenvolvido por questões mesmo de recursos e ainda de discriminação racial que existe na face da terra.

            Vejamos esse raciocínio: Se um criador de gado, por exemplo, possui o melhor rebanho do mundo, ou seja, plantel de primeiríssima qualidade, puro de origem, fica patente que no relacionamento touro x vaca de pura linhagem o bezerro, com toda certeza, será um belíssimo exemplar. Este, quando adulto, mesmo que cruze com vacas de mestiçagem relativa produzirão crias de excelente teor sanguíneo. A procedência, isto é a origem, o começo é que conta.

            Em tempos não muito idos, formaram-se aqui no nosso país, grandes times de futebol, caso do Botafogo de Futebol e Regatas, do Rio de Janeiro, o Santos Futebol Clube, de São Paulo, só para ficar nesses dois, que anualmente faziam excursões por todo o mundo, enchendo as vistas de desportistas dos mais distantes rincões do planeta. Para ver esses clubes jogar os estrangeiros pagavam muito caro.

            Vejam, só de passagem, que o Botafogo possuía o homem da folha seca, o "colored" Didi, cujo chute partia alto e caía repentinamente na baliza adversária (não precisava dessa bola que estão chamando de jabulani), o Jairzinho, o grande furacão. No Santos a safra de craques de cor era abundante e aqui vamos citar o Coutinho, Pelé, e Mengálvio, que formavam na linha de ataque do time peixeiro, e não havia quem não levasse goleada naqueles velhos tempos.

            Pode não ficar tão claro, todavia, nas excursões desses dois clubes, pra não falar de outros, os atletas tinham suas merecidas folgas, daí quem quiser entender pode admitir que eles espalharam crianças pelo mundo afora, por onde passaram, e em se tratando de “touros” de alta linhagem, evidente que os nascituros também tenderiam a ser bons jogadores. O que vemos hoje é que equipes africanas estão praticando futebol quase na mesma linha do brasileiro.

            Ora, apesar do nome do clube, santos eles não o eram de maneira alguma, e naquela época não havia esse negócio de “camisinha” nem se falava tanto em “AIDS”, o campo era livre e abundante.  Nem estamos aqui querendo lembrar o Leônidas da Silva, o inventor da bicicleta, nem de Domingos da Guia, Djalma Santos, Zózimo. Outra coisa, nem se pensava em requerer na justiça qualquer pensão alimentícia em face da paternidade.

            A verdade, todavia, é que o nosso futebol só começou mesmo a prosperar depois que os clubes passaram a admitir atletas de cor em suas equipes, o que era terminantemente proibido até os idos de 1920, pois o esporte era privilégio dos ricos e brancos, em face da segregação racial a que estavam sujeitos os nossos negros que tanto fizeram para a construção deste país.

            Foi justamente por essa causa que os negros fundaram a “Liga da Canela preta”, ao final da década de 20. O primeiro campeonato mundial ganho pelo Brasil, em 1958, na Suécia, contou com a participação decisiva de três negros de alma branca: Djalma Santos, Didi e Pelé, como titulares, mas havia outros na reserva, como o Moacir, por exemplo.

            Olha, fazendo uma pequena digressão, um fato que pouca gente conhece no país ocorreu três meses antes da Copa do Mundo de 1958, quando o então garoto Pelé, de apenas 17 anos, fora oferecido pelo clube de Vila Belmiro ao Sport Clube do Recife sem quaisquer ônus. Mas por sorte do Rei o diretor de futebol rubro-negro da época, senhor José Rozemblit, dono da gravadora de discos do mesmo nome, recusou terminantemente a oferta: “Pelé, quem é esse que ninguém por aqui conhece”?

            O que eu queria dizer mesmo era que o futebol pode até ter sido inventado por outra nação, mas que a terra dele é mesmo na África. Ora, se não se ensinava a jogar, como que o Pelé se tornara o maior atleta de futebol de todos os tempos? Seus pais, avós, bisavós, tatatararara... Sabiam fazê-lo?  Que me expliquem os entendidos.

            O nosso Rei escapou por pouco...

 

Fico por aqui.

Em revisão.

           

ansilgus
Enviado por ansilgus em 19/06/2010
Reeditado em 20/06/2010
Código do texto: T2329232
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