Problemas de interpretação

Final de semana passado levei minha filha ao zoológico, pra ver os animais cativos.

E o cativeiro (talvez salvo pros homens – exceções à parte, que tem doido pra tudo) é um conceito muito pouco linear quanto ao conforto.

Uns animais estão, verdadeiramente, acabados, tristes; são, em regra, as aves, os grandes predadores e aqueles animais latifundiários, que se sustentam em vastos territórios e migrações fantásticas. Uns parecem esquizofrênicos, alucinados; outros, excitados em excesso a bater nas barras; outros estão simplesmente vencidos – feito o leão que, pra engravidar uma fêmea, copula algumas dezenas de vezes; o do zoológico enviuvara, e não lhe restava consolo na vida, nem manual, haja vista a agudez das garras: era um grande espartano deprimido.

Outros, no entanto, estão visivelmente alegres. São as caças, o proletariado da selva: pequenos roedores, répteis (acho que por causa do sangue frio), ruminantes e outros que tais. Esses, fora do alcance dos algozes, parecem zombar dos visitantes, estufando seus vulneráveis peitos com desmedido orgulho e indisfarçada sensação de invencibilidade.

Mas, puxando pelo título desta crônica, vim falar de problemas de comunicação. E, primata que sou, desentendi-me com outro primata.

Explico:

Passávamos pelas jaulas dos macacos (babuínos, macacos-prego, macacos-aranha – este, o bicho mais sem-vergonha que existe, brasileiro nato e honorário – e outros mais). Numa jaula do canto, havia dois macaquinhos amarelos, cabeçudos (cearenses, desculpem) e brincalhões (cearenses, é isso mesmo). Não sei da raça, nem da idade, mas achei (acho, sei lá), que eram apenas filhotes. Bem, o fato é que assobiei pra um deles, que aguçou os olhos pra mim. Fiquei todo orgulhoso porque, quase sempre, eles não dão bola pra visitante qualquer. Pensei: pô, eu devo ter um dom de comunicação único! Continuei assobiando, fazendo gruídos, barulhos finos, e ele me encarava, balançava o pequeno tórax, atento, quase bípede. De repente, saltou prum galho, balançou-se numa corda e se agarrou à tela num salto cinematográfico, me olhando com vivacidade. As pessoas ficaram admiradas; minha filha encantou-se. Mas, pobre de mim, que me iludi! Quando fui ver, o macaquinho, me fitando, arregalado, boquinha aberta, fazendo mil caretas, exibia uma puta ereção… Puxa vida, só aí notei a cara de tarado dele! O pintinho latejava, subia e descia, apontando em minha direção! Risada geral e eu, humilhado, mal interpretado, passei à jaula do hipopótamo, que estava submerso, indiferente, e não oferecia risco ao meu pudor.

É nisso que dá inventar de falar um idioma que não se conhece…

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