O Politicamente Incorreto

Diz como é que um homem faz pra relaxar! O homem agregado à vida e à mobilidade dos acontecimentos em torno; o homem que se importa… Ele não relaxa. Vai à rede, abre o livro, pega o café, acende o cigarro e tudo lhe baratina a cuca, tudo lhe sova dentro da cabeça as lamúrias, as ponderações e, no rastro, a perspectiva iminente da morte. É a cidade íntima que traz em si, onde se movimentam a mulher, o trabalho, a moral e a imoralidade; as idéias de amanhã ser melhor – de amor e amizade. Seria aparentemente simples: deixa essa merda se danar e aproveita o tempo! Mas, ah, não é bem assim: o cérebro, automático, faz do autômato alguém que já só pertence às ondas de fatos rebatidas nos olhos.

Digam o que quiserem do politicamente incorreto, mas existe uma raça de homens que só encontra paz na bebida. Não falo dos alcoólatras agudos, porque se consomem num fogo que não conheço; falo daqueles que, feito eu, precisam visitar o sublime quando em vez, esse céu abstrato que se reconhece a si na bebida; que lhe abre o amor além da cortina do cotidiano. E a casa disso é a sexta-feira, com sua sagrada acumulação de labuta e a legitimidade monárquica de seu entardecer. E o nome disso é pileque – porre é muito agressivo; embriaguês, muito técnico; pileque é doce; o demais é gíria excessiva.

Sabe bem quem o sente: chegar às sextas, sentar num canto, ouvir música e tomar uma bebida! Tudo lhe amolece, depois comove, e os acordes vêm em tom de abraço curtir a alma daquele que, embora esteja sempre sonhando, é agora o próprio sonho em movimento ascendente.

E se lhe disserem (dedo na cara), nesse momento, que ele está iludido, que vai assim bambo sob uma química que lhe supre uma fraqueza da infância remota num tabu fálico em forma de garrafa etc.-e-blá-blá-blá, ele rirá, primata encantado em seu rito de ternura e bendizer, e afagará os cabelos dos críticos, respondendo: relaxa…

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