Voltando pra casa
Ontem quando estava voltando para casa, depois de mais um dia de trabalho e uma passada rápida na faculdade, fiquei pensando em algumas coisas que iam acontecendo no meio do caminho. É normal em um ônibus de São Paulo, que vejamos situações que se não nos fazem pensar, nos deixam com um pouco de raiva ou proporcione algumas risadas contidas. Pois bem, ontem me ocorreram as duas sensações, quase simultaneamente.
No primeiro momento quando o ônibus chegou ao local onde uma imensa fila já o aguardava, olhei para o visor perto de mim. Eram 19h36 e a partida prevista era para daqui a quatro minutos. Um outro ônibus iria demorar muito e estava cansado, doido para chegar em casa. Preferi entrar nesse mesmo, torcendo a cada pessoa que entrasse para ainda sobrar um lugarzinho vago pra mim. A viagem era demorada e precisava sentar. Muito bem, consegui meu lugar e no horário marcado o ônibus finalmente saiu do local.
Como disse, é normal presenciarmos situações diversas em um transporte público de São Paulo. A primeira foi quando ainda estava na fila. Quando estava esperando para entrar, um homem, ao muito a minha frente, começou a gritar e a cantar. Logo pensei: esse cara é um daqueles que ficam gritando no ônibus, enchendo o saco! Dito e feito. O cara tinha uma voz irritante e falava alto, quase gritando. E o pior, parecia não se importar com isso, tanto que em algumas vezes dizia em claro e bom som pra quem quisesse , que ninguém iria dormir enquanto ele estivesse no veículo. Fechava os olhos, abria-os, olhava para trás, via expressões de incômodo nos outros passageiros e o sujeito ainda assim falando sem parar. Confesso que quando ele falava, até dava umas risadas sozinho, já imaginando como contaria esse relato; o que estou fazendo agora. Mas estava com um leve dor de cabeça o que me fazia pedir silenciosamente que chegasse logo a hora de dito cujo descer do ônibus. E, finalmente, depois de aproximadamente 40 minutos, ele desceu. Uma paz ecoou nos ouvidos de todos que estavam lá.
O segundo, talvez um pouco mais engraçado e mais constrangedor, não demorou muito a acontecer. Um outro homem, este completamente bêbado, entrou no ônibus. Assim que ele encostou na catraca para falar com o cobrador, dava para perceber, nitidamente, que ele estava pra lá de bêbado. Deve ter pedido para passar por baixo e o cobrador deixou. Quando ele passou, parou e ficou sentado. Sentado como se estivesse em qualquer outro lugar que não um ônibus em movimento. Ficou olhando para o chão como se estivesse encarando alguém. Não me contive e deu outra risada. No momento em que ele levantou, foi sentar-se em um banco vazio em frente ao meu. Sentou do lado de uma moça, que se encolheu toda para não encostar seu braço no braço do bêbado. E ele nem aí. Olhava de um lado para o outro e com um rosto todo inchado forçava a vista para fora da janela. Perguntou qualquer coisa para menina que, discretamente, colocou a mão em frente ao nariz (penso eu que para não sentir aquele cheiro de bebida). Passado algum tempo, ele levantou de um pulo e deu sinal para descer, resmungando que tinha passado do ponto que queria. Desceu cambaleando e fiquei olhando aquele sujeito imaginando como chegaria em casa.
Passei os 10 minutos restantes no ônibus, pensando que ali tinha uma história e que poderia escrevê-la. São situações, que como já disse, são normais na cidade de São Paulo. Porém, contá-las a minha maneira, era uma coisa que me fez dar algumas risadas.